São Paulo, quarta-feira, 11 de maio de 1994
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Previsão do tempo será mais precisa

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A chegada do supercomputador para previsão de tempo no país marca a entrada da meteorologia brasileira a um nível de Primeiro Mundo, mas muito precisa ser feito ainda para que o resultado final possa atender às expectativas de quem quer saber se vai chover no fim-de-semana, justificando um investimento de US$ 40 milhões.
Esse é o custo total do projeto, cujo peça básica é o supercomputador japonês NEC SX-3/12-R, que está começando agora a ser instalado em Cachoeira Paulista (SP), no Cptec (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos), órgão do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
O novo computador vai permitir aumentar bem a margem de acerto nas previsões, segundo o engenheiro Arry Carlos Buss Filho, chefe do projeto de implantação.
Para a meteorologia, uma margem de acerto na previsão de 60% é aceitável. No Brasil hoje, diz Buss, essa margem só existe para previsões de até um dia e meio adiante. Mais que isso, a taxa de acerto baixa para menos de 60%.
Com o SX-3 funcionando será possível fazer previsões com cinco dias de antecedência e margem de 60% a 70% de acerto. Para uma previsão de 24 horas, o acerto será de quase 100%.
Mas só o computador não basta para o país ter uma meteorologia confiável. "Há problemas ainda", diz o presidente da Sociedade Brasileira de Meteorologia, o pesquisador da USP Pedro da Silva Dias.
"A rede básica é deficiente", afirma Dias. "E o sistema nacional está desorganizado", declara o professor da USP.
O computador depende de dados que vêm do exterior e de dados brasileiros. Os dados do exterior vêm de uma rede da Organização Meteorológica Mundial, captados em Brasília.
Mas para acertar melhor a previsão na área que interessa ao país, a América do Sul, os dados brasileiros têm de vir regularmente também. Quanto mais e melhores, mais precisas as previsões.
São as informações básicas que alimentam o sistema, a "matéria-prima" da previsão: temperatura, ventos, pressão, chuvas e umidade.
As fontes são variadas, como aviões comerciais e navios mercantes. Também podem vir de imagens de satélite, que o Inpe costuma coletar.
O ponto mais fraco do elo são as informações que vêm de bóias marítimas, balões de sondagem e plataformas terrestres, ou seja, da própria infra-estrutura nacional de coleta, que é deficiente.
Há meteorologistas que acham que teria sido melhor investir nessa estrutura antes de montar um centro sofisticado.
Dias acha que não, argumentando que esses dados novos seriam mais úteis às previsões estrangeiras do que às brasileiras, que se ressentiriam do instrumento para melhor aproveitá-las.
"Também é preciso investir na coleta, ter dados de entrada melhores", concorda Buss, do Cptec.
Outro problema é a falta de coordenação entre as várias instâncias que cuidam da meteorologia no país.
`Estou em campanha para que se repense todo o sistema", afirma Dias, que deve estar hoje em Brasília discutindo o assunto com autoridades federais.
Para ele, é preciso que exista, por exemplo, uma maior coordenação com as iniciativas estaduais no setor.
Até o começo da operação do computador é possível que parte desses empecilhos tenha desaparecido. Segundo Buss, serão precisos dois meses para instalar o SX-3 –depois disso, mais três meses serão tomados por testes.

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