São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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Deputados tentam reabrir negociações

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Comissão de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados vai esperar até o meio-dia de hoje para que o governo reabra negociações com os grevistas da Polícia Federal e tire o Exército das ruas.
A proposta é para "baixar a tensão" e evitar que possa haver confronto entre a PF e o Exército.
O prazo foi pedido pelo ministro da Justiça, Alexandre Dupeyrat, ao qual a PF é subordinada.
Pela proposta negociada, os policiais voltariam a manter os serviços essenciais e suspenderiam os piquetes. Os deputados avalizariam o cumprimento do acordo.
A decisão foi tomada em conjunto com o ministro da Justiça. Ele esteve durante três horas e meia na comissão, após ser convocado para dar explicações.
Dupeyrat disse que o governo decidiu chamar o Exército porque não tinha outra saída. "Tivemos informações de que os delegados e usuários foram constrangidos e não conseguiram trabalhar ontem (anteontem) porque os grevistas não deixaram."
A argumentação de Dupeyrat foi considerada "insuficiente e insensata" pela maioria da comissão. "Foi um equívoco baseado em mentiras contadas no Palácio do Planalto", disse o deputado Moroni Torgan (PSDB-CE).
Entre os deputados havia revolta e temor. Isso porque na tarde de terça-feira o presidente Itamar Franco havia dito a parlamentares que não usaria o Exército –e o fez numa ação de madrugada.
A informação de que helicópteros estavam desembarcando tropas na Praça dos Três Poderes serviu para acirrar os ânimos. O ministro disse que não sabia o que estava acontecendo.
Um grupo de deputados, liderados por José Genoino (PT-SP), apresentou em seguida uma proposta de conciliação: o governo retiraria o Exército e os grevistas retomariam os serviços essenciais.
A proposta foi debatida durante meia hora em reunião fechada com Dupeyrat, os deputados, uma comissão de grevistas e o presidente da CUT, Jair Meneguelli.
Ao final, às 18h, Dupeyrat saiu da Câmara em direção ao Planalto para levar a proposta da comissão. Os deputados disseram que reabertas as negociações, passam a discutir a forma de atender às reivindicações salariais dos policiais.
"Ficamos no mesmo lugar, mas pelo menos conseguimos que o Congresso se manifeste contra a intervenção militar. Depois eles se propuseram a ajudar na questão do salário", disse Francisco Garisto, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais.
Pela manhã, os grevistas conseguiram chegar ao gramado em frente ao Congresso sem incidentes, apesar do forte policiamento. Tanto a Polícia do Exército quanto a PM do DF cercaram a passeata.
Os agentes da PF querem ganhar um salário igual ao dos agentes da Polícia Civil do DF. As duas carreiras são regidas pela mesma lei (nº 4.878/65).
A diferença salarial entre a PF e a Polícia Civil do DF passa de 300%. Um agente federal em início de carreira recebe 262 URVs (CR$ 388 mil). O salário de um policial civil do Distrito Federal é de 964 URVs (CR$ 1,4 milhão).

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