São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Líderes transitam entre CUT e militares

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
MÁRIO SIMAS FILHO

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI; MÁRIO SIMAS FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

As lideranças responsáveis pela greve da Polícia Federal gravitam entre os militares e a CUT (Central Única de Trabalhadores).
A intervenção militar de ontem foi provocada basicamente por dois motivos: o radicalismo dos sindicatos de policiais ligados à CUT e a falta de habilidade do governo em conduzir as negociações com os grevistas.
Em razão da aproximação entre PF e militares, os sindicalistas não esperavam que o governo fizesse uso do Exército contra eles.
Uma das provas da boa vizinhança entre militares e PF é um telex enviado à Federação Nacional dos Policiais Federais, assinado pelo ministro do Exército, Zenildo Zoroastro de Lucena.
Um oficial do Exército havia dito em público que, com a greve do ano passado, os policiais deixariam de arrecadar US$ 100 mil por dia em corrupção.
"O telex diz que Exército e PF sempre agiram juntos e que são entidades amigas", afirmou Lauro Trappi, presidente do Sindicato dos Agentes da PF em São Paulo. "Nos damos muito bem", disse.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Francisco Garisto, chegou a frequentar o gabinete do ministro-chefe do Estado Maior das Forças Armadas (Emfa), almirante Arnaldo Leite Pereira.
Em julho do ano passado, o coronel Wilson Romão assumiu o comando da PF. Os delegados se manifestaram contrários à nomeação do militar. Argumentavam que ele era um "quadro estranho" à PF. Mas, o coronel encontrou o apoio de Garisto.
"O problema é que o coronel apenas vendeu ilusões, desde que assumiu a PF, em greve", disse o delegado Marcelo Itajiba, presidente do Sindicato dos Delegados da PF em São Paulo.
No início de abril, já com a PF em greve, Romão reuniu os sindicalistas da PF em Brasília. Ele pediu aos policiais que elaborassem a minuta de uma medida provisória que seria levada ao presidente.
O texto foi feito e apresentado ao coronel. Cerca de dez dias antes, Romão e o ministro da Administração, coronel Romildo Canhim, disseram a Garisto que se o procurador-geral da República fosse favorável às reivindicações dos policiais elas seriam atendidas. O procurador foi favorável.
No dia 15 de abril, o ministro da Justiça esteve com delegados da PF. "Na reunião, o ministro mostrou ignorar as negociações anteriores", disse Itajiba.

Texto Anterior: Romão não solucionou crise
Próximo Texto: Policiais em Minas ameaçam suspender todos os serviços
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.