São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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60% do sangue é contaminado por hepatite

ANDRÉ LOZANO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Uma análise recente do Centro de Hemoterapia do Acre (Hemoacre) revelou que 60% do sangue coletado pelo órgão em Rio Branco (AC) está contaminado por hepatite B.
O Hemoacre coletou sangue de 238 pessoas que contribuíram voluntariamente para a pesquisa e verificou que 142 doadores possuíam o anticorpo do vírus causador da hepatite B, ou seja, já tiveram contato com a doença.
O levantamento foi realizado entre os dias 7 e 30 de abril, a pedido do Ministério da Saúde.
"Isto significa que em cada dez pessoas que doam sangue ao órgão, seis estão contaminadas por hepatite e nós temos que jogar fora esse sangue porque ele não pode ser usado para transfusão. O resultado é que o nosso estoque de sangue está vazio e pessoas estão morrendo por essa razão", disse o diretor do Hemoacre Paulo César Souza.
Segundo ele, no Acre prevalece um dos maiores índices de contaminação do sangue por hepatite do mundo, comparado apenas a países asiáticos e africanos como Cingapura, Laos, Camboja e Etiópia.
O Centro de Hemoterapia do Acre deveria manter um estoque semanal de, pelo menos, 60 bolsas de sangue.
Ontem, o órgão tinha cinco bolsas estocadas. "Nos dois primeiros dias desta semana coletamos 20 bolsas de sangue. Tivemos de jogar fora 13 delas porque estavam contaminadas por hepatite B", afirmou Souza.
O diretor do Hemoacre disse que a situação da coleta de sangue no Estado está tão caótica que "é necessário se repensar os conceitos de transfusão".
Segundo ele, o Ministério da Saúde deveria autorizar, em determinadas situações, a transfusão desse sangue como a única forma de se salvar vidas.
"Chegamos numa situação tal que não sabemos se mais pessoas vão morrer por falta de sangue ou de hepatite B", disse Souza.
Ele alega que a permissão para transfusão de sangue com o anticorpo da hepatite B não poderia prejudicar mais a população porque "se 60% dos doadores já tiveram contato com a doença, a mesma porcentagem vale para os receptores, são duas faces da mesma moeda".
Souza disse que as medidas de controle da hepatite no Acre competem ao Ministério da Saúde.
"Os números mostraram que o Acre precisa urgentemente de uma campanha contra a hepatite. É preciso que o Ministério da Saúde realize a vacinação não somente de crianças até 4 anos, mas dos adolescentes até 14 anos", afirmou a bioquímica do Hemoacre Maria Augusta Moraes.
Ela disse que a presença do anticorpo da hepatite B não significa que a pessoa vá desenvolver a doença.
"Mas, com certeza, essas pessoas já tiveram contato com o vírus, o que representa um problema sério de saúde pública", afirmou a bioquímica.

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