São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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República da Dança passa em seu primeiro teste com profissionalismo

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O República da Dança passou no teste. "Forró for All", coreografia de Ana Mondini que marcou a estréia terça-feira do mais novo grupo de dança do Brasil, tem várias qualidades e, acima de tudo, destaca um profissionalismo raro entre companhias recém-formadas.
No conjunto, "Forró for All" prima pelo acabamento técnico. Os figurinos de Reinaldo Lourenço (uma "releitura" sútil das roupas do cangaço), a cenografia de Tuneu (com o piso inclinado proporcionando novas dimensões espaciais) e a iluminação sem excessos de Guilherme Bonfante, garantem o equilíbrio plástico do espetáculo.
O elenco, que reúne alguns dos melhores profissionais de São Paulo, mostra que está preparado para esse e outros desafios. Em termos de conjunto, é questão de tempo a conquista de uma naturalidade mais visceral.
Coreograficamente, "Forró for All" ganha andamento mais preciso depois das primeiras cenas. No início, algumas corridas e caminhadas, somadas a sequências minimalistas baseadas na contração do torso, criam o temor de que o timing esteja fora do controle.
Mas logo a ação adquire ritmo. Se as imagens ou elaborações gestuais não chegam a surpreender, demonstram, por outro lado, uma articulação consistente.
Ana Mondini é especialmente talentosa na composição de duos –como os realizados por Key Sawao e Carlos dos Santos ou o de Beth Risoléu e Aguinaldo Bueno.
Embora inspirada na poesia musical de Luiz Gonzaga, a coreografia não cai no regionalismo.
Os arranjos musicais, de Jether Garoti Jr., também estão equilibrados na alternância de música gravada e ao vivo. As aparições esporádicas de sanfoneiros não interferem negativamente na composição das imagens.
Pelo contrário, a figura solitária de Dominguinhos, executando lamentosamente a música "Asa Branca", reforça um solo de Beth Risoléu.
O uso da voz, pelos bailarinos, vale com exploração de novos recursos corporais. Em alguns momentos ainda incomoda.
Com virtudes iguais ou menores, há grupos na Europa recebendo as melhores atenções. Um exemplo: a Compania Nacional de Danza da Espanha, hoje dirigida por uma estrela, o coreógrafo Nacho Duato.
Patrocinada pelo Ministério da Cultura de seu país, a Compania Nacional de Danza apresentou recentemente, no prestigiado Festival Internacional de Dança de Cannes, um espetáculo que, pela inspiração em raízes regionais, faz lembrar "Forró for All".
Em matéria de plasticidade cênica e bom gosto na concepção do espetáculo, está aquém da peça de estréia do República da Dança.
Por que, então, não apostar que logo o República da Dança estará competindo no mercado artístico internacional?
Depois da estréia no Teatro Municipal, como uma das atrações do 4º Festival Internacional de Artes Cênicas, o República da Dança estará de volta para temporada no Teatro Sérgio Cardoso, de 26 a 29 de maio.

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