São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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Golpistas fazem presidente no Haiti

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Um grupo de congressistas haitianos que apóia o governo militar daquele país deu posse ontem a um novo presidente, o juiz da Suprema Corte Emil Jonassaint, 80.
O governo dos EUA classificou a medida de "cínica, inconstitucional e ilegal", segundo a porta-voz da Casa Branca, Dee Deee Myers.
Jonassaint foi eleito e empossado por 13 dos 27 senadores e 30 dos 79 deputados que compõem o Congresso do Haiti.
O chefe das Forças Armadas haitianas, general Raould Cedras, acompanhou a eleição e a posse de Jonassaint.
O presidente no exílio do Haiti, Jean-Bertrand Aristide, divulgou nota em Washington afirmando que a posse de Jonassaint "joga o país ainda mais fundo no caos".
Aristide, um ex-sacerdote de convicções socialistas, foi deposto em 1991, oito meses depois de eleito pelo voto dos haitianos.
Logo após o golpe, os militares golpistas nomearam como presidente outro juiz da Suprema Corte, Joseph Nerrette. Mas eles o abandonaram em julho de 1992, diante da pressão internacional pela volta de Aristide.
Cedras e Aristide fizeram um acordo em julho do ano passado e um primeiro- ministro de comum acordo, Robert Malval, foi nomeado para liderar a administração provisória até o retorno do presidente deposto, marcado para outubro. Malval renunciou em dezembro depois do fracasso do acordo.
O Haiti está desde outubro de 1993 sob embargo de combustíveis e armas aprovado pela Organização das Nações Unidas. A ONU resolveu na semana passada ampliar o embargo para todos os produtos, exceto medicamentos.
O presidente Bill Clinton tem ameaçado enviar tropas militares para reinstalar no poder o presidente deposto.
Em outubro do ano passado, os EUA enviaram 200 soldados como parte de uma força internacional que iria garantir o retorno de Aristide nos termos do acordo de julho.
Mas o navio de guerra norte-americano que levava os militares nem chegou a atracar em Porto Príncipe, capital do país: diante de bando de arruaceiros civis que os esperavam no cais, os soldados recuaram e voltaram aos EUA.
Um dos senadores que elegeu Jonassaint ontem, Bernard Sansaricq, disse ontem a emissoras de TV norte-americanas: "Os EUA precisam largar do nosso pé. Deixem o Haiti ser o Haiti".
Sansaricq fez um apelo ao papa João Paulo 2º para que evite uma invasão do Haiti pelos EUA e ponha fim ao embargo comercial. O Vaticano é o único país que reconhece o governo militar haitiano.

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