São Paulo, sábado, 14 de maio de 1994
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Autoridade e autoritários

JANIO DE FREITAS

O governo tenta agravar a insensatez já demonstrada na sua pendenga com os grevistas da Polícia Federal. É um vício seu, embora não só seu.
Basta investir-se de alguma autoridade funcional para que as pessoas, em geral, sintam-se desafiadas, e reajam assim, ante a mais simples evidência de que alguém não confunde o seu nível hierárquico menor com sujeição e subalternidade. E, no entanto, autoridade funcional não é poder, é atributo. Sua finalidade essencial é a de dirimir problemas, de conduzir à sua solução, jamais a de ser parte deles. Deformada, porém, a autoridade acaba sendo sempre conflituosa. A autoridade reduz-se a autoritarismo.
Certos governantes levam a deformação da autoridade ao ponto de sequer distinguir, na prática, as diferentes naturezas dos conflitos de que se fazem parte, voluntariamente. São igualados, desse modo, confrontos com uma facção partidária, sem mais consequências possíveis do que a perda de alguns votos no Congresso, e confrontos que põem em risco os alicerces mesmos do regime constitucional. É o que volta a acontecer neste governo, tão pouco depois do confronto com o Supremo Tribunal Federal.
Não há como ver nas atitudes do presidente Itamar, neste problema da Polícia Federal, o desejo de encontrar a melhor solução. Pelo que se depreende, o que ele quer é vencer. Parece não se perceber no governo: sente-se em combate. O que talvez explique a entrega de tantos postos civis a militares. E por certo explica sua aceitação fácil de carros de combate, helicópteros bélicos e ações de desembarque, tudo tão gratuito e patético, diante do Congresso, das instâncias mais altas do Judiciário e da Presidência da República –as três fontes do regime constitucional e civil.
Para um ano que promete carga incomum de fatos relevantes –políticos, econômicos e, por conta destes, sociais– o que prometem o presidente Itamar e os ministros militares, com a excessiva semelhança de suas concepções de autoridade, está longe de ser entusiasmante. Haja democracia para aguentar o rojão. Mas onde encontrá-la?

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