São Paulo, sábado, 14 de maio de 1994 |
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Ang Lee questiona modernidade de Taiwan
LÚCIA NAGIB
Com menores pretensões internacionalizantes que o filme anterior, "Comer Beber" encontra os problemas da modernidade na Taipei informatizada, dominada por telefones celulares e pelo pulso forte das mulheres. Três irmãs são as protagonistas, todas profissionalmente ativas, enquanto o pai viúvo, remanescente dos agora raros experts da cozinha tradicional chinesa, faz o papel de uma supermãe no melhor estilo, mimando as moças com iguarias. Mas, diferentemente dos cada vez mais frequentes filmes culinários, que costumam usar a comida para devolver os personagens a seus instintos fisiológicos e eróticos, aqui o ato de se alimentar é um claro sintoma da dificuldade de comunicação entre os membros da família. O ato de se restringir a falar da comida evita a exposição dos problemas de cada um. As histórias que correm de forma paralela mostram os casos amorosos das três moças e do pai, nos quais o traço comum é a traição, nem sempre voluntária, mas invariavelmente derivada do desconhecimento de cada um quanto aos sentimentos de seu próximo. A capa satírica não encobre o fel que impregna as relações. Do mesmo modo, a sofisticação das receitas chinesas está cheia de perversidades –como sufocar a carpa antes de abrir seu ventre. Nada disso chega a provocar um final dramático, o que iria contrariar o espírito de comédia mantido até o fim. Mas, todas as expectativas são contrariadas pelas surpresas das trocas amorosas que, se dão certo, parece ser por mero acaso. Texto Anterior: `A Rainha Margot" é épico constipado Próximo Texto: Imagens relembram história do futebol Índice |
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