São Paulo, sábado, 14 de maio de 1994
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Companhia de Olga Roriz se perde em citações

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O espetáculo "Introdução ao Princípio das Coisas", que a Companhia de Dança de Lisboa apresenta até domingo no Teatro Sérgio Cardoso, traz ao Brasil o trabalho da coreógrafa Olga Roriz.
Junto ao elenco, Roriz se propõe a desenvolver o que chama de estética de autor. Na Europa, não faltam coreógrafas do gênero que, entre outras características, possuem um grupo de intérpretes profundamente afinados entre si.
Roriz ganhou elenco próprio apenas há dois anos –um tempo curto para estabelecer uma sintonia mais profunda com o grupo, que já foi dirigido por outros coreógrafos.
Em "Introdução ao Princípio das Coisas", que estreou mês passado em Lisboa, Roriz reúne 13 cenas inspiradas em filmes, músicas e personagens da cultura contemporânea.
Sem se preocupar em enfatizar as relações, Roriz faz citações ao "Mahabarata" de Peter Brook, às "Ligações Perigosas", de Laclos, à "Traviata", de Verdi.
Nesse entra e sai de personagens, o único que permanece é o anjo do filme "Asas do Desejo", de Win Wenders. É o único que permanece vivo, no fim do espetáculo, quando todos se transformam em figuras estáticas, como em um museu de cera.
Embora de origens tão interessantes e diversas, os personagens compõem uma mesma mistura, com reações, movimentações, ritmo e personalidades comuns. E aí está o problema do espetáculo, que se arrasta em meio a uma neurose generalizada e interminável.
No final, não há mais como aguentar mulheres se estapeando com os próprio leques, casais que se repudiam, gente em convulsão a todo momento. Com ritmo linear, a peça se torna asfixiante.
Ao contrário de Pina Baush, que sabe tocar o inconsciente do público, Roriz fala somente consigo própria. Quem sabe, com mais alguns anos de pesquisa, possa mostrar um real trabalho de grande autora.

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