São Paulo, sábado, 14 de maio de 1994
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OLP assume o poder em Jericó

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Depois de 27 anos de ocupação militar israelense, os 14 mil moradores da cidade de Jericó, na Cisjordânia, festejaram ontem a entrada do primeiro contingente de policiais palestinos.
"Fomos tomos surpreendidos. Simplesmente acordamos para a liberdade", disse Salaimeh, um morador que observava 62 policiais cruzarem a ponte Allenby (que separa a Jordânia da Cisjordânia ocupada por Israel).
Oito horas depois, entraram cerca de 400 outros policiais, em comboio de ônibus e jipes.
Foi a primeira transferência de poder a palestinos por Israel, em cumprimento do acordo de autonomia limitada na região em volta de Jericó e na faixa de Gaza.
O acordo de autonomia foi assinado em setembro passado, em Washington, pelo premiê israelense, Yitzhak Rabin, e pelo líder da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), Iasser Arafat.
A festa palestina foi estragada pela morte de um menino de nove anos atingido pelo irmão, que brincava com a arma de um policial.
A tia deles também foi ferida por uma bala. A OLP anunciou que o soldado será julgado por uma corte marcial.
Arafat disse ontem em Túnis (Tunísia) que pretende ir para a Cisjordânia em junho. Ele anunciou anteontem 15 dos 24 nomes de seu governo.
O comandante da polícia palestina, Saad al Naji, hasteou a bandeira vermelha, preta, branca e verde dos palestinos na principal delegacia de Jericó, assim que um oficial israelense assinou a transferência de poder aos palestinos.
A delegacia era o símbolo da ocupação israelense na cidade.
"Esta é a primeira vez que entramos por vontade própria. Nós costumávamos ser amarrados e espancados por soldados israelenses aqui", disse Mohammad Sai'd, 42, depois de beijar um policial palestino.
Os policiais palestinos chegaram do Iraque e da Jordânia –onde foram treinados durante anos para guerrear com Israel.
Ontem, eles faziam patrulhas conjuntas com soldados israelenses nas redondezas da cidade.
"Não consigo descrever meus sentimentos, é o primeiro passo no caminho da completa autoridade nacional", disse o capitão Ahmed. Moradores jogavam doces e arroz nos policiais e dançavam nas ruas.
Mas muitos opinavam que a OLP ainda tinha que se transformar de organização revolucionária em governo e talvez não esteja pronta para administrar as 20 mil pessoas da região em volta de Jericó e o 1 milhão de moradores da faixa de Gaza.

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