São Paulo, sábado, 14 de maio de 1994
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Quadro eleitoral definido

LUIZ CARLOS BRESSER PEREIRA

A decisão do STF de considerar inconstitucional a proibição aos pequenos partidos de apresentarem candidatos à Presidência da República não altera o quadro eleitoral deste ano e não representa qualquer retrocesso institucional.
Avanço eleitoral teria sido a proibição de partidos com menos de 5% de votos a nível nacional terem representantes no Congresso. Este não teve a coragem de aprovar tal medida, e acabou adotando uma solução de compromisso pouco significativa que o Supremo acaba de anular.
Em consequência poderá ser reaberto o prazo para a apresentação de candidatos e se sugere que José Sarney poderia se candidatar por um pequeno partido ou mesmo pelo PFL... Não creio que o ex-presidente cometa tal insensatez eleitoral, muito menos o PFL.
Na verdade, a principal consequência da decisão do Supremo será o nosso desprazer em ver na televisão alguns candidatos folclóricos apresentando sua candidatura à Presidência.
Para este ano o quadro eleitoral já está razoavelmente definido. No primeiro turno serão provavelmente vitoriosos Lula e Fernando Henrique. Para o segundo turno não é possível fazer qualquer previsão.
A queda nas prévias eleitorais sofrida por Fernando Henrique levou alguns analistas a duvidarem dessa hipótese. Quem sabe Quércia, ao invés de Fernando Henrique, poderia ser o adversário de Lula no segundo turno?
Ora, uma análise minimamente cuidadosa demonstra que falta a essa alternativa um mínimo de consistência lógica. Segundo estes analistas, Quércia seria um líder populista "bom de voto" apoiado por um grande partido. Mas será mesmo bom de voto?
Nas duas últimas vezes em que foi eleito (1974 e 1986), tal fato aconteceu em um momento em que o MDB e o PMDB obtiveram vitórias eleitorais históricas em todo o país. Para estas eleições, as perspectivas apontam no sentido oposto. Em 1989 esse partido não deu mais do que 4% ao dr. Ulysses. Nas pesquisas eleitorais, Quércia, sobre o qual pesam acusações gravíssimas, está aparecendo com porcentagem semelhante.
Quanto a Fernando Henrique, sua queda nas últimas prévias é perfeitamente explicável. A saída do Ministério da Fazenda deixou-o momentaneamente sem cargo e missão. Para reorganizar seu discurso com vistas à Presidência, precisava de um mínimo de tempo, que as negociações com o PFL obstruíram. Em consequência, saiu da mídia por um mês. Esta fase, entretanto, já está terminada.
Hoje, em Contagem (MG), a convenção nacional do PSDB oficializará seu nome. No dia 1º de julho, seu plano de estabilização controlará a inflação. Se não ocorrer antes, a partir desse dia seu crescimento nas prévias será enorme. Não apenas pelos resultados do plano, mas porque os eleitores saberão que só ele será realmente capaz de consolidar o plano, uma vez eleito. Saberão também que só Fernando Henrique terá condições, no segundo turno, de vencer Lula. Quércia ou Sarney seriam facilmente batidos no último turno.
O avanço democrático se faz lentamente. No Brasil, continuamos a permitir uma pletora de partidos que apenas dificulta o processo político. Um dia resolveremos este problema com mais coragem, como um dia também adotaremos o voto distrital misto.
Mas, por enquanto, é preciso ser paciente e tratar de levar adiante a atual campanha eleitoral em alto nível, da forma que a personalidade e o passado dos dois principais candidatos garantem.

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