São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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CDB vive incerteza da transição para o real

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O vice-presidente do Citibank, Cássio Casseb Lima, diz que o mercado poderá negociar normalmente CDBs prefixados (que embutem uma expectativa de inflação e juro) em junho –o mês da transição para o real.
"Basta que o governo anuncie que não haverá tablita nos prefixados, que o mercado usa a `maquininha' e faz o juro", afirma.
Se houver esta garantia, o governo vai assistir por três dias os próprios bancos formarem a taxa de juros para julho –o mês do real. Hoje ela é estimada entre 7% a 9% efetiva ao mês.
Três dias é exatamente o prazo entre o primeiro lote de CDBs negociados que vencem em julho e a data mais próxima de um leilão de títulos públicos.
No leilão, o governo ficaria com a tarefa de fazer simplesmente a sintonia fina e balizar o juro que vai vigorar com a nova moeda.
Renê Aduan, do Real, também acredita que o BC deverá balizar os juros a partir do início do mês de junho.
Para ele, o que as pessoas desejam é deixar o dinheiro livre para quando o real chegar.
A idéia é, a partir do novo cenário, reacomodar os porta-fólios. Há consenso no mercado de que os juros serão altos.
Mas ainda não se formou um consenso sobre qual será a melhor alternativa de aplicação pós-real –aquela que garante o acesso a estes juros, com maior liquidez.
Renê Aduan acredita, porém, que será difícil estimar a inflação do início da troca de dinheiro para o real.
Há quem aposte no mercado que a inflação já em junho vai crescer dois pontos percentuais sobre a de maio.
Em parte vai ser efeito da urvização dos preços que o governo está promovendo, o que, ao menos teoricamente, reduz o tamanho da inflação residual do real. Mas não só isto.
Outra justificativa: existe, sim, demanda. Ela só não aparece nos discursos por medo da taxa de juros que o governo pode fabricar no início da nova moeda.
Câmbio
Casseb Lima vê problemas mais graves na operação do câmbio. "O mercado vai precisar saber com exatidão, pelo menos 72 horas antes, qual será o juro do over no dia 1º de julho", diz.
É que as operações de câmbio são liquidadas em cheque, enquanto os títulos públicos em dinheiro.
Para o câmbio, o juro que interessa é o do CDI (interbancário). Para os títulos públicos, o do over.
"Se o juro do CDI do dia 30 de junho não for igual ao do dia 1º no over, vai acontecer uma transferência de renda, que será tão maluca quanto gigantesca', diz.
IGP-M
Casseb Lima não acredita que os títulos indexados ao IGP-M possam voltar a ser negociados antes de agosto ou setembro.
Depois que o governo encontrar a sua fórmula para "deflacionar" os títulos, ela será levada para a apreciação do Congresso. Passada esta fase, vão começar as disputas na Justiça.
Em resumo: o mercado deve esquecer, como já faz hoje em dia, este indexador.

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