São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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Morte de Lewis Puller Jr. reflete fracasso dos veteranos do Vietnã

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

Quando o escritor americano Lewis Puller Jr., 48, ganhador de um dos mais importantes prêmios das letras americanas, o Pulitzer, se matou na semana passada, constatava, de uma forma extremamente violenta, o fracasso que habita os chamados veteranos do Vietnã. Puller se matou com um tiro na cabeça.
Sua autobiografia premiada "O Filho Afortunado" mostrava como havia superado os traumas da guerra e a mutilação. Puller acabou sendo transformado em exemplo, para aqueles que conseguiram retornar de uma guerra que dizimou mais de 48 mil soldados americanos entre 1961 e 1975. Puller fazia parte dos mais de 153 mil feridos. Resolveu dar as costas para exemplos edificantes.
Mas, além dele, outros veteranos resolveram transformar lembranças de guerra em literatura. Alguns com mais e outros com menos lamentações chorosas. Alguns conseguindo, com muito esforço, fazer literatura.
Como Philip Caputo, autor do romance "Rumor of War". Philip venceu o próprio fantasma de ser apenas mais um soldado se lamentando de suas lembrança. E conseguiu sobreviver se colocando no tipo de realismo de um autor como John Dos Passos. Ou de Ernest Hemingway. Só que, ao contrário deste, impossibilitado de se ver como um herói. Assim como Tim O'Brien, talvez o melhor ficcionista gerado pela guerra com seu "If a Die in a Combat Zone" e "Going After Cacciato".
O'Brien definiu esse ruidoso trauma da vida americana escrevendo que "a guerra não foi vencida nem com um quarto do exército americano na luta. Nós matamos um deles. Eles matam um dos nossos. É engraçado".

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