São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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`Mrs. Parker' decepciona

AMIR LABAKI
DO ENVIADO ESPECIAL

"Mrs. Parker and The Vicious Circle", cinebiografia da escritora americana Dorothy Parker (1893-1967), em nenhum instante consegue estar à altura de seu personagem.
Alan Rudolph encenou uma espécie de "Pagu" à americana, em que a real densidade das celebridades que retrata jamais vem à tona, represada pela obsessiva citação de nomes famosos e de máximas espirituosas.
Como num museu de cera animado, assiste-se ao desfile de Dorothy Parker com o genial círculo nova-iorquino do Algonquin, de Robert Benchley a Harpo Marx, de Charles McArthur a George Kaufman.
O maior ou menor envolvimento emocional com cada um deles tem a platitude e a frieza de uma placa sinóptica de exposição.
Acentua-se assim um problema já presente no outro filme de época assinado por Rudolph, "Os Modernos", também passado nos anos 20 e no qual, entre personagens de ficção, circulavam tipos como Hemingway, Henry Miller e Gertrude Stein como que extraídos de álbuns de figurinha.
O artificialismo geral é catalizado pela equivocada escolha de Jennifer Jason Leigh para o papel-título.
A timidez inerente à persona cinematográfica de Leigh conflita com o forte tipo de Dorothy Parker.
Como que num movimento compensatório, Leigh procura imitar a voz rouca e grave de Parker. O resultado é artificial e inconvicente.
"Riaba"
Por sua vez, "Riaba, Minha Galinha", de Andrei Konchalovsky é a versão russa do cinema politicamente correto.
A solitária e militante Assia, que ganha a vida vendendo os ovos de sua galinha Riaba, amarra a narrativa construída sob o formato episódico e didático.
Sucedem-se situações de humor rasteiro e de melodramaticidade rasgada, sempre com a mesma mensagem: a democracia conquistada é boa, mas faz muita falta a segurança que se foi com a restauração capitalista.
Konchalovsky ("O Círculo do Poder") já fez melhor, ainda assim "Riaba, Minha Galinha" tem boas chances de premiação. Festivais adoram filmes engajados nas causas do momento.
A boa intérprete central Inna Tchourikova, que lembra no estilo, mas não no físico, Fernanda Montenegro, seria a melhor das escolhas.

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