São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994 |
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Hartley prossegue subversão
AMIR LABAKI
Com seu quarto longa-metragem, o diretor de "Confiança" não decepcionou e apresentou o melhor momento até aqui de Cannes-94. "Amateur", segundo Hartley, "é um filme sobre a reputação". Identidades Sob a forma de um thriller paródico, Hartley discute a questão da identidade. Os três personagens centrais rompem com o passado e iniciam nova vida, voluntariamente ou não. Isabelle Huppert ("Madame Bovary"), a grande atriz francesa que se ofereceu para trabalhar com Hartley. Ela interpreta a ex-freira Isabelle, que abraçou a religião para driblar uma pretensa ninfomania e 15 anos depois abandonou o hábito, tornando-se escritora de contos pornográficos. Michael Donovan ("Confiança") abre o filme estirado na calçada, com vidro ao redor, uma nuca ferida e completamente amnésico. Elina Lowensohn ("Simples Desejo") vai nos revelar o passado dele: casado com ela, a explorou como atriz de filmes pornôs e os ligou a uma máfia internacional. Cansada, foi ela que o atirou janela abaixo. O acaso os reúne, inicialmente aos pares. Hartley desenvolve a narrativa em cima das convenções do thriller clássico, com informações secretas, capangas cruéis, tiros e perseguições. Hartley subverte cada situação a partir de seus diálogos obsessivos ou de piadas à Godard. Unidade O todo resulta muito mais coeso do que "Simples Desejo". O trio central está soberbo, com Huppert integrando-se com exemplar modéstia à trupe Hartley. A saga dos desgarrados hartleyanos conhece aqui seu melhor capítulo desde "Confiança". "Amateur" trata da violabilidade dos laços e compromissos que esculpem uma vida, do amadorismo perene de todas as escolhas. Em suma, é uma bela fábula sobre a disponibilidade. Texto Anterior: Atom Egoyan confirma que é talento em ascensão Próximo Texto: Escritora era má e maravilhosa Índice |
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