São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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Exército de Ruanda faz civis cavarem trincheiras

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Tropas do Exército de Ruanda, dominado pela etnia hutu, obrigaram civis a cavar trincheiras e bombardearam posições da Força Patriótica de Ruanda tutsis para tentar expulsar os rebeldes da capital, Kigali.
Moradores da cidade afirmaram que os civis foram obrigados a construir defesas no distrito de Kanombe, que vem sendo atingido por fogo dos rebeldes instalados nas colinas Gasogi.
Desde o início da manhã de ontem forças do governo alvejaram regiões próximas do aeroporto, dominadas pela FPR, e os bairros de Reubero e Kicikuro.
Os rebeldes responderam com fogo de morteiro disparado a partir das colinas em torno da capital.
Estima-se que a FPR já controle metade do país da África Central após um mês de guerra civil e massacres generalizados iniciados por causa da morte do presidente Juvenal Habyariamana (hutu), em atentado.
Funcionários de agências de ajuda humanitária calculam que 500 mil pessoas já morreram, a maioria tutsis vítimas de milícias e esquadrões de morte de hutus.
O papa João Paulo 2º pediu ontem o fim da guerra no país e disse que os católicos também são responsáveis pelo genocídio.
"Chega de sangue", disse o papa em mensagem semanal, gravada no hospital de Roma onde se recupera de uma fratura na perna.
Os países que compõem o Conselho de Segurança da ONU já têm um acordo para aprovar o envio de 5.500 soldados para Ruanda e a proibição de venda de armas para as facções combatentes.
A votação está prevista para terça-feira. Mas há divergências: os EUA querem que a força da ONU seja empregada nas fronteiras, enquanto a ONU quer defender o aeroporto de Kigali.
Abdul Kabia, diretor da missão de assitência da ONU em Ruanda, disse ontem que um avião que tentou aterrissar no aeroporto teve que voltar por causa dos combates.
Apenas um avião cargueiro C-130 Hércules canadense conseguiu pousar durante um pequeno intervalo.
Os violentos enfrentamentos entre os hutus (cerca de 90% da população) e os rebeldes tutsis (cerca de 9%) também acontecem no interior do país.
O empresário suíço Claude Sonier, 47, relatou à agência "Reuter" que na cidade de Butare (sul) homens, mulheres e crianças foram atirados a buracos cheios de pneus queimando.
Segundo ele, entre as vítimas estava sua sogra, uma tutsi. "Depois de dois dias desta coisa inacreditável, jogar as pessoas nos buracos, choveu muito e o fogo se apagou. Os corpos ficaram lá, sobre os pneus, dentro dos buracos."
Sonier, sua mulher tutsi e três crianças foram levados para o vizinho Burundi.
"Agora Butare está calma, porque 40% da população está morta e os hutus estão fugindo da FPR."

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