São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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Mr. Lula

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

SÃO PAULO – Seria muito estranho se os empresários norte-americanos que receberam Luiz Inácio Lula da Silva se mostrassem eufóricos com o que ouviram. A visão econômica de mr. Lula é evidentemente conflitante com o liberalismo da terra de Marlboro.
Mas as críticas e as insatisfações manifestadas pelo establishment financeiro dos Estados Unidos em relação ao anacronismo do candidato petista não deixam de ter suas ambiguidades.
Acusado de ser estatizante e retrógrado, mr. Lula, dizem todos, levaria o Brasil a um "retrocesso". A pergunta é: em relação a que? Vivemos, por acaso, num país que está avançando, que tem-se revelado um exemplo de abertura econômica, de estímulo à livre concorrência, de boa política fiscal, de investimento em educação e pesquisa?
Se Lula ocupa hoje um lugar privilegiado nas pesquisas de opinião não é por outro motivo senão pela incapacidade dos capitalistas de fazerem capitalismo no Brasil. Ao que se sabe, o PT nunca ocupou a Presidência da República, nunca implantou controle de preços, nunca financiou rombos de empresários com dinheiro público.
Tudo isto, como é de conhecimento geral, foi praticado largamente durante o regime militar, sob a batuta de economistas, como Delfim Netto e Mario Henrique Simonsen, que hoje surgem como paladinos de uma política que não praticaram.
Responsável por uma enxurrada de estatizações, este regime, como também se sabe, teve nos Estados Unidos um aliado.
É claro que os tempos mudaram, que a Guerra Fria acabou, que a economia internacional passou por modificações profundas. É claro que Lula dá demonstrações de não estar entendendo o que acontece a um palmo das fronteiras do país. Mas por que os partidários do liberalismo não implantaram durante todo esse tempo as medidas fundamentais, modernas, indispensáveis etc., que Lula impedirá que se implantem caso eleito? Quem semeia o vento, "dear", colhe a tempestade.

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