São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Brasil tenta o suicídio
JOSIAS DE SOUZA BRASÍLIA – Escrevi tempos atrás que o Brasil havia morrido e, suprema desgraça, não fora para o céu. Hoje, estou convencido de que me precipitei. O país não morreu. Está sendo morto. Ou por outra, está cometendo o suicídio. O brasileiro conspira contra a própria existência, num processo de tenebrosa letargia.Um destino cruel como o nosso não se fabrica no inferno. É coisa feita em casa. Cavamos diariamente nossa própria sepultura. Consumada a morte, seremos suicidas sem bilhete. Só se deixa algo escrito quando se deseja atribuir a outrem a culpa pela auto-imolação. O país não tem a quem culpar senão a si próprio. O Brasil será um morto inexplicável, um cadáver surpreendente. Sem traumas raciais, sem fatalidades climáticas, sem guerras. unido por um único idioma, subsolo recheado, terra abundante, o país é um derrotado com currículo de vencedor. Nossa auto-eliminação é lenta, gradativa. Respiramos uma normalidade anormal. Vivemos em estado de sanidade insana. Temos uma dúzia de candidatos e não dispomos de nenhum. A ressurreição de José Sarney, hoje acarinhado pelo índices de pesquisa, se explica pela ausência de alternativas. Volta-se a um passado conhecido, para evitar o futuro incerto. O novo no Brasil tem as rugas de um velho. Um Fernando Henrique social-democrata une-se aos liberais do canavial, ao PFL governista, no poder desde os tempos da pedra lascada. O Lula envernizado, de retórica moderada, alia-se ao PC do B neolítico que vê no comunismo uma idéia avançada. O desespero deixa assanhada a tese do voto de protesto, branco ou nulo. Outro dia flagrei-me numa roda em que se jogava conversa fora. Um jovem arricou a defesa da idéia: "Vou anular meu voto". Indignado um senhor reagiu: "Não cometa esta tolice. Se num país de 150 milhões não encontramos um único cidadão em condições de exercer a Presidência, o melhor seria castrarmos o brasileiro e ligarmos as trompas da brasileira. Uma raça tão incapaz merece o extermínio". Está aí uma idéia a ser considerada. Texto Anterior: Mr. Lula Próximo Texto: Lula, lá Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |