São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
Texto Anterior | Índice

Ídolos; Exército nas ruas; Ianomâmis; Saúde; Mais cobrança; Segunda divisão; O papel dos eleitores; Chega de planos

Ídolos
"Aquelas milhares de pessoas que acompanharam o enterro de Ayrton Senna do lado de fora pareciam as mesmas milhares de pessoas que, no único dia do ano, em que o ídolo se apresentava no Brasil, ficaram do lado de fora do circo, pois era muito caro para estarem lá dentro (será que se esqueceram?). Agora há um novo ídolo, Ronaldo, 17 anos, jogador do Cruzeiro, convocado por Parreira –com toda razão, por sinal–, que está sendo programado como exemplo de ídolo. Vamos esquecer/lembrar que ele tem um Golf importado, dirige sem carteira de habilitação despreocupadamente, foi parado duas vezes, mas liberado por `me reconhecerem', não tem título de eleitor, não sabe quem são os candidatos? Este é o ídolo que vai incentivar o voto de jovens maiores de 16 anos. Já imaginaram na televisão a imagem de Ronaldo, se dirigindo, `não o Golf importado', mas a milhares de jovens com a seguinte frase: `você, jovem como eu, faça como eu'!"
Luiz Carlos dos Santos, coordenador do Centro Pastoral de Orientação e Educação à Juventude (São Paulo, SP)

Exército nas ruas
"O Exército poderia sair às ruas para defender os interesses do povo. Por que não utilizar os homens desse exército para construir casas populares ou até mesmo contribuir em alguma campanha de vacinação infantil? O jovem serviria durante um ano, ganharia um salário para prestar serviços à comunidade. Dessa forma já seriam milhões de jovens que sairiam do desemprego. Enfim, o nosso exército sairia às ruas para algo útil e não para atender a vontade de um presidente incompetente, que não sabe negociar com os funcionários da PF. É preciso tomar muito cuidado. De repente, os generais podem pensar que estamos `precisando' deles e tomar conta do país de uma vez."
Alexandre de Almeida (Guarulhos, SP)

Ianomâmis
"Mais uma vez o jornalista Janer Cristaldo se utiliza de um surpreendente espaço na Folha de S. Paulo para fazer outra manipulação grosseira de fatos comprovados sobre a chacina de Haximu, que ultrapassa, com folga, as fronteiras que separam o bom jornalismo, da desídia, da má-fé e do racismo explícito. Desta feita, mesmo com documentos e informações adequadas sobre o caso, ele reafirma no domingo, contra todas as evidências, que não houve massacre e nenhum cadáver foi encontrado! Parece que o doutor em letras francesas não soube ler um artigo em português que, a contragosto, fomos obrigados a redigir para esclarecer a verdade sobre fatos comprovados num processo judicial, em curso na vara federal de Roraima. De nada adiantou as cópias de peças do processo que generosamente oferecemos, pela segunda vez, à Folha. Por preguiça ou falta de interesse, este senhor não leu ou não quis ler os autos do processo judicial e continua a disparar novas setas envenenadas de puro racismo contra índios, que ainda não têm a capacidade de entender os perigos que advêm do mau uso intencional do poder da imprensa em publicar, sem uma correta investigação ou mesmo comprovação, as mais diversas iniquidades sobre assuntos da mais alta relevância como a vida humana. Lamentamos que os jornais não se interessem tanto pela apuração dos fatos como pela divulgação histérica dos escândalos nacionais ou dos inúmeros massacres aqui ocorridos. Como se a morte de 16 índios ianomâmis (pessoas humanas e não chimpanzés como grosseiramente a eles compara o `ilustre doutor') pudesse ser menosprezada pelo fato de não ter sido 19, ou 40 ou 73 ou 120 o número de vítimas. De maneira sórdida, alguns setores da imprensa decretam que o valor da vida mede-se tão só pelo tamanho e número de cada massacre. Não vamos permitir que a vida humana seja banalizada em sucessivos artigos de `jornaletrecos'. Afinal, a lição do nazismo, ainda presente no mundo, ensina a todos que não se deve brincar com ameaça à vida de grupos étnicos e religiosos. Ainda mais quando interesses econômicos inconfessáveis juntam-se a manifestações racistas disfarçadas de um suposto nacionalismo redentor. Sabe-se que a vulgarização da violência e dos massacres cometidos contra judeus e ciganos e a manipulação desses fatos nos meios de imprensa foram os grandes responsáveis pela manutenção do Terceiro Reich. Um Goebbels pode causar muito mais estragos do que um facínora como Josef Mengele. Essa será a nossa última resposta a este senhor neste periódico. As próximas comunicações serão feitas perante o Poder Judiciário, a quem cabe dirimir os litígios decorrentes da leitura dos artigos ofensivos do senhor Janer que, sem dúvida, dão ensejo a algumas providências judiciais, que serão oportunamente tomadas pela comunidade indígena e pelas diversas autoridades por ele vilipendiadas."
Aurélio Virgílio Veiga Rios, procurador regional da República e membro efetivo da Câmara de Coordenação e Revisão dos Direitos das Comunidades Indígenas e das Minorias do Ministério Público Federal (Brasília, DF)

Saúde
"A auditoria do Ministério da Saúde mostrou que os ínfimos recursos da saúde são mal empregados. A falta de gerenciamento dos hospitais públicos impede que as fraudes sejam apuradas imediatamente. Somente no mês de março é que foram verificadas as fraudes de dezembro/93, com ganhos financeiros que dificilmente serão restituídos."
José Knoplich, presidente da Associação Paulista de Medicina –APM (São Paulo, SP)

Mais cobrança
"O excelente articulista Luís Nassif vem responsabilizando o procurador Aristides Junqueira pela falta de ação para punição dos corruptos, além de outros `elogios'. Até sugeriu ao presidente Itamar nomear procuradores novos que não estejam comprometidos em fazer `média'. O que causa indignação, é que nem o presidente nem o procurador respondem nada. A Folha deveria cobrar resposta na Primeira Página, com manchete e tudo. É o maior jornal do país e tem autoridade para isso."
Marcos André Papa (Ribeirão Preto, SP)

Segunda divisão
"Por exigência da FPF (Federação Paulista de Futebol) o estádio de Itu foi ampliado nos dois primeiros meses deste ano e inaugurado em pleno campeonato... Talvez por esse esforço o time do Ituano tenha ficado prejudicado e, apesar de um brilhante segundo turno, após três meses será rebaixado. Fica a lição para outros times: reivindicar estabilidade por um período proporcional ao investimento."
Benedito Amauri Christofoletti (São Paulo, SP)

O papel dos eleitores
"Gostaríamos de esclarecer ao público que a Liga dos Eleitores do Brasil (Libra) é uma entidade de utilidade pública que tem como objetivo primordial promover a responsabilidade política do cidadão, através da informação e educação; desenvolver o sentido pleno da cidadania; promover a participação contínua e vigilante dos cidadãos nos atos governamentais; motivar a afiliação partidária de livre opção; desenvolver o respeito às leis e à democracia; conscientizar os eleitores de que o ato de votar é um dever cívico inerente à cidadania. Não é intuito da entidade, portanto, promover qualquer candidato ou partido. Os membros da Libra estão desta forma desautorizados a promover quaisquer candidatos em nome da entidade, podendo militar apenas em seus próprios nomes."
Regina Di Dio, presidente da Liga dos Eleitores do Brasil –Libra (São Paulo, SP)

Chega de planos
"Seria muito mais interessante se o governo fizesse uso das reservas cambiais e começasse um vigoroso programa de combate à miséria, criando empregos, distribuindo melhor a renda, incentivando as atividades no campo e, sobretudo, investindo no cidadão para que a nação tenha algum futuro. Basta de plano mirabolante sempre perto das eleições, porque o povo está cansado de esperar e um dia os políticos poderão ficar desempregados."
Yvette Kfouri Abrão (São Paulo, SP)

Texto Anterior: 1964: Por quem dobram os sinos?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.