São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 1994
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A soja e a política agrícola

RAUL PAULO COSTA

Muita publicidade e divulgação estão sendo feitas em torno da supersafra de 94, que ainda está sendo colhida. Não há dúvida de que o volume de produção foi bom, embora falar em supersafra seja um exagero.
Basta lembrar que, no caso da soja, o Brasil vai colher em 94 em torno de 24,5 milhões de toneladas e que há cinco anos, em 89, o país atingiu uma produção de 23,6 milhões de t.
O produtor rural está recebendo uma remuneração satisfatória. Mas já na primeira quinzena de abril, o simples anúncio, por parte do USDA, de um aumento de 3% (em vez de 1% anteriormente estimado) na área a ser plantada nos EUA, já fez baixar os preços.
Além disso, o agricultor está apenas se recapitalizando, depois de três anos de prejuízos sofridos, em especial na época da ministra Zélia Cardoso de Mello, um dos piores períodos da agricultura brasileira.
É preciso dizer ainda que a boa safra não é consequência de qualquer política de fomento por parte do governo. A satisfatória remuneração do produtor rural e o aumento da produção de grãos se devem às condições de mercado.
Na soja, um dos fatores responsáveis foi a quebra de safra americana de 93. Infelizmente, a melhoria de renda do agricultor brasileiro tem ficado na dependência de quebras e calamidades climáticas dos concorrentes, o que leva brasileiros a torcerem por desgraças alheias.
Não concordamos com esse tipo de torcida. Acreditamos que nossa agroindústria tem condições de ampliar sua presença nos mercados externo e interno, através da competitividade e da eficiência, já demonstradas nos últimos anos.
Falta porém uma política de governo, que existe em todos os países concorrentes, em particular uma política tributária e investimentos em transportes, principalmente ferrovias.
Está na hora de o país acabar com a torcida pela desgraça dos outros e adotar uma política adequada às necessidades do agricultor e do consumidor.
Isto cabe agora ao governo e ao legislativo, já que a responsabilidade da iniciativa privada, que é a a competitividade e eficiência da agroindústria, já é um fato há muitos anos.
Como exemplos dessa competitividade, basta lembrar que a produtividade em Mato Grosso é a mais alta do mundo, ultrapassando 3 mil kg/ha. Ao mesmo tempo, o preço do óleo de soja ao consumidor brasileiro é o mais baixo do mundo, girando em torno de US$ 0,70 a US$ 0,80 a lata.
No mercado internacional, apesar dos elevados subsídios recebidos pelos produtores e pela agroindústria de oleaginosas dos EUA e dos países europeus, o Brasil consegue ser o maior exportador mundial de farelo de soja e o segundo maior de óleo de soja.
No ano passado, o complexo soja foi, mais uma vez, o primeiro item das exportações brasileiras, com US$ 3,1 bilhões e previsão é de US$ 3,7 bilhões para este ano.

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