São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 1994
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Dinheiro segue para o mercado financeiro

EDUARDO BELO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos estão vendendo o que o comércio não consegue. Enquanto as vendas derrapam nos mesmos números do ano passado, há um nítido direcionamento do dinheiro para aplicações financeiras.
As cadernetas de poupança cresceram 0,69% reais na primeira semana de maio. Todos os fundos somados, cresceram 4,41% entre o final de abril e o dia 10 passado.
Nos fundos de commodities –com US$ 16,24 bilhões hoje, 49% de tudo que é investido em dez tipos diferentes de fundos–, o crescimento é de 7,55%.
Também cresceu a procura por dólares no câmbio paralelo. Embora o Banco Central disponha de mais de US$ 30 bilhões em reservas para regular o mercado, a pressão sobre as cotações já começou.
O "black", que há um mês valia em torno de 4% menos que o comercial por causa das reservas do BC –que injetava dólar no mercado quando preciso, para baixar a cotação. Ontem a diferença caiu para praticamente zero.
A procura por investimentos num momento de mudanças e de juros altos é normal. "Taxas de juros nominais elevados tendem a induzir à poupança", diz Geraldo Gardenalli, professor da FGV.
Para ele, as condições do momento "afugentam quem compra a crédito". A situação deve mudar em julho, com o real, prevê.
Carlos Luque, presidente da Ordem dos Economistas de São Paulo, também acredita em migração do mercado financeiro para o consumo tão logo o juro nominal caia –mesmo que a taxa real (acima da inflação) seja maior.
Poder de compra
Hoje ele não identifica nenhum fator que estimule o consumo. Ao contrário: o ritmo mais intenso de alta da inflação este ano está corroendo os salários e reduzindo o poder de compra, afirma.
"Quando a inflação se reduz, o poder de compra se recupera em parte e estimula o consumo", diz. Para ele, a chegada do real torna a situação "mais clara" e facilita a decisão de comprar ou poupar.
Na opinião do consultor Gil Pace, o consumidor vai sair do mercado financeiro "quando perceber que a rentabilidade (nominal) vai cair vertiginosamente".
Por isso ele prevê uma "bolha" (aumento temporário e localizado) de consumo de julho a setembro. "O poupador vai achar que está sendo lesado", afirma.
Nenhum dos três acredita que essa migração possa ser facilmente detida por medidas anticonsumo.
"Se o governo limitar o crédito, as empresas concedem por conta própria", resume Gardenalli.
Os economistas consideram normal o volume de vendas. Para Pace, a queda alegada "não bate com pesquisas que estamos fazendo".
Ele prevê consumo estável para alimentos e produtos de higiene e limpeza, vendas boas para eletroeltrônicos e carros e alguma queda para o vestuário –devido ao atraso do frio e aos preços elevados.
Gardenalli diz que os bens duráveis vêm apresentando boa procura. O recuo na venda de produtos básicos pode ser atribuído a preços reais altos para a época, diz.

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