São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 1994
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Edílson deu drible de vaca da Parmalat

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, dias passados percuti neste mesmo teclado a idéia de que o Ronaldo e o Edílson seriam os possíveis substitutos para o Dener no nosso ataque de cinco estrelas.
(Na verdade, os campos brasileiros se tornaram, novamente, o chão de estrelas. A bola, corre novamente, entre os astros distraída. Acho que só a comissão técnica, como a Carolina, não vê).
Apesar da impotência da escolha, no calor daquela hora, eu também confabulava com este fabulador de maravilhas que é o IBM-433SX/S ponderando que o Edílson estava mais próximo do Dener.
O palmeirense era mais saci-pererê, mais moleque no jogo, mais volúvel às diabrites, mais propenso à alegria alegórica do drible do que o estilo arrematador da grande promessa do Cruzeiro.
(Pasolini já escreveu sobre a diferença poética entre o drible e o gol. Há algum tempo que, inspirado em Octavio Paz, penso em escrever sobre a questão dos erotismos do gol e drible).
Pois bem, o gol de ontem consagra Edílson no lugar do Dener. Aliás, foi um gol em número, gênero e grau no estilo dos marcados pelo garoto da lusa –daqueles gols que reiventam o futebol.
Nos dois gols memoráveis de Dener, ele econtrou mais obstáculos na sua trajetória do que o Edílson. O mesmo ocorreu com aquele famoso de Maradona, na Copa de 86 (ele chegou a dibrar o mesmo jogador inglês duas vezes na trajetória).
Mas o fecho e o desfecho do gol do Edílson, com aquele drible genuíno de vaca premiada da Parmalat no Ezequiel, proporcionaram, como na tragédia grega, a catarse aos cidadãos palestrinos.
O gol do Edílson foi um cartão postal para o "Cartão Verde", o programa de esportes que fez dele uma espécie de símbolo da alegria no futebol.

Haja o que houver, seja como for. Que murmurem, que me importa que murmurem. Também pouco me importa que o Palmeiras foi campeão sem ele. Eu digo, redigo e nem ligo, neném:
–A gente acha que se o Paulo Sérgio vai, o Edmundo também deveria ir.

O título do Barça tem valor de um manifesto: sim, é possível acreditar no ataque; sim, é possível acreditar nos gols; sim, é possível acreditar no futebol arte; sim, é possível o método com talento.
Não foi o pênalti que perdeu o título para o Deportivo La Coru¤a. Foi a sua incapacidade histórica de fazer gols. De construir situações de gols. Quem viu os dois jogos finais pode confirmar isto.
Considero Mauro Silva um jogador excepcional. Disposição descomunal, excelente preparo físico e psicológico e grande marcador –além de ser rápido e eficiente nos passes.
Mas querer que ele exerça as funções de homem criador, de software das jogadas de ataque do Deportivo, é pedir demais. O time de Bebeto pagou o alto preço de apostar demais na marcação.
Quando tem que fazer gols, não consegue. Já a filosofia de Cruyff é exponencial: não me importo de tomar dois gols, desde que faça três. Fez cinco. E é tetracampeão de um grande campeonato.
O técnico holandês cometeu as suas ousadias habituais: trocou a eficiência e a segurança lá atrás do Koeman (como já havia feito anteriormente), pela presença do dinamarquês Laudrup no ataque.
A defesa foi um desastre. O ataque foi divino, com Laudrup fazendo uma das suas melhores partidas com a camisa azul e vermelha. E haja coração para o superjogo de amanhã contra o Milan.

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