São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 1994
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Um escândalo de bilhões

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Está para explodir um escândalo gigantesco. Podem apostar: não será um escândalo de milhões de dólares. Mas de bilhões. Em pouco tempo, os documentos e números chegam às mãos do presidente Itamar Franco, mostrando um dos lados mais cruéis –talvez o mais cruel– da bandalheira nacional.
Existe uma disseminada convicção de que as verbas federais destinadas a pagar internações e tratamentos médicos são fonte de fraude e desperdício. Este ano, os hospitais devem receber cerca de US$ 5 bilhões.
A convicção da bandalheira está baseada em relatórios já produzidos pelo TCU (Tribunal de Contas União), os quais já revelaram, por exemplo, parto em homem ou operação de fimose em mulher. E por aí vai. Simples entender: forja-se uma operação ou aumentam-se os dias de internações para engordar a fatura a ser cobrada do governo.
O Palácio do Planalto recebeu documentos que engrossam a suspeita de que a fraude pode ser maior do que se imaginava –diante dos números, o presidente Itamar Franco pediu uma investigação ampla. Segundo dados do Ministério da Saúde, cresceram em 600% os gastos com o atendimento nos hospitais públicos e conveniados. Apesar disso, os serviços não estão melhores.
O ministro da Saúde, Henrique Santillo, informa que, apesar das enormes cifras em jogo, não existe uma quantidade razoável de fiscais para controlar as fraudes e desperdícios. Tem-se uma situação absurda: os hospitais dão a conta, mas ninguém confere. É algo que nenhum cidadão deixa de fazer quando recebe uma simples nota de restaurante.
Volto a insistir: o presidente que conseguir reduzir os desperdícios com dinheiro federal já terá deixado uma marca administrativa. E se verá que os cofres públicos têm mais dinheiro do que imaginam os ferozes burocratas sempre ávidos meter a mão no bolso do contribuinte.
PS – Uma boa notícia veio ontem do Ministério da Justiça. Quem estiver dirigindo está proibido de usar o telefone celular. É um risco alguém manter uma mão na direção e outra no telefone, que, além do mais, desvia a atenção. Está na hora de a sociedade lançar uma guerra diária contra os acidentes de trânsito, mandando para cadeia ou, no mínimo, tirando a carteira de habilitação de motoristas relapsos.

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