São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 1994
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Slogans e ícones

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - Os candidatos a presidente da República começam a tomar a forma de slogans e de imagens em busca de uma identidade pública fácil de ser memorizada.
Os slogans e ícones escolhidos tentam sintetizar o chamado espírito da campanha – seus objetivos principais, seu programa, suas metas. Deveriam ser a cara do candidato ou da campanha.
Temos na praça, neste momento, quatro exemplos destas primeiras tentativas de marketing eleitoral.
Cartazes do PT com fotos de Lula, Luiza Erundina (candidata ao Senado) e José Dirceu (candidato ao governo de São Paulo) têm o seguinte slogan: "Agora é a vez do povo".
Difícil imaginar algo mais populista, eleitoreiro e despolitizado, principalmente para a tradição purista do PT.
O PSDB recicla o lema arcaico e ultrapassado do positivismo: "Ordem no governo, progresso no Brasil". É mais uma ruptura, mesmo que simbólica, com idéias que o PSDB tentou construir de si mesmo nestes últimos anos.
E o partido moderno, com idéias modernas e lideranças modernas? Ordem no governo soa sempre a autoritarismo. E, além disso, não há desordem no governo. Há incompetência, corrupção, inapetência, desperdício etc etc etc.
Orestes Quércia espalhou outdoors para convocar a prévia do PMDB nos quais que aparece discursando com o braço esquerdo flexionando e punho cerrado.
Imagino que queira, com a foto, passar a idéia de força, de coragem. Mas a pose remete imediatamente para o Collor irado de 89, que se apresentava como vítima das elites e representante dos descamisados. Mera coincidência?
E tem por fim o bigode do Sarney desenhado em outdoors. Este, por pouco revelar, é o mais explícito de todos.
É como se dissesse: esqueçam da loucura que foi o meu governo, do estelionato do Plano Cruzado, da ferrovia Norte-Sul, do fisiologismo, dos recordes inflacionários. Lembrem apenas do meu bigode e de como sou simpático.
Então tá!

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