São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 1994
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PF grampeia telefones de bicheiros presos

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Setenta horas de conversas telefônicas obtidas através de grampo podem ser a prova definitiva para que o Ministério Público (MP) denuncie os bicheiros do Rio por formação de quadrilha, pela segunda vez.
O MP conseguiu autorização judicial para grampear e fazer escuta de dois telefones do Instituto Penal Vieira Ferreira Neto, em Niterói, onde estão presos oito bicheiros.
As gravações, feitas no período de 30 de março a 1º de maio, trazem conversas dos bicheiros com várias pessoas. Eles faziam e recebiam chamadas dos telefones do gabinete e da portaria do presídio.
Ontem o procurador-geral Antônio Carlos Biscaia recebeu a transcrição de 15 das 70 fitas gravadas. O trabalho de grampo e escuta foi feito pela Polícia Federal.
O relatório da PF sobre as transcrições considera que, do presídio, os bicheiros controlam por telefone a administração do jogo, seus lucros e resultados das extrações.
Também pelo telefone, os bicheiros davam ordem de ativação e desativação de pontos de apuração do jogo, conforme o MP. Segundo o relatório, eles autorizavam pagamentos, compravam e vendiam imóveis.
A assessoria de imprensa do MP não informou se havia referência a tráfico de drogas nos telefonemas. Um dos pontos orientadores das investigações da procuradoria são possíveis ligações do bicho com o tráfico.
O relatório da PF identifica oito bicheiros, dois presos e 15 agentes penitenciários que facilitavam os telefonemas.
No Instituto Vieira Ferreira Neto estão presos os bicheiros Antônio Petrus Kalil, o Turcão, Carlinhos Maracanã, José Scafura, o Piruinha, Waldemir Garcia, o Miro, Waldemir Paes Garcia, o Maninho, Haroldo "Saenz Pena" Andrade, Luizinho Drummond e Aniz Abraão David.
Todos foram condenados no ano passado por formação de quadrilha, pela juíza Denise Frossard. Eles estão presos em regime fechado no Vieira Ferreira Neto.
Conhecido como Sítio do Pica-pau Amarelo, o presídio é considerado mais brando que a prisão da Polinter, onde estão os bicheiros Zinho, Capitão Guimarães e Paulinho Andrade.
A diretora do Departamento de Sistema Penal, Tânia Pereira, disse que está investigando desde a semana passada denúncias de irregularidades no Vieira Ferreira.
Segundo Tânia, se for confirmado que agentes penitenciários facilitavam o uso dos telefones, eles serão afastados e responderão a processo administrativo.

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