São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Barça é laboratório de idéias de Cruyff

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

O time do Barcelona é uma espécie de laboratório das idéias que o seu treinador, o holandês Johan Cruyff, 47, tem sobre o futebol jogado na atualidade.
Ele foi o principal jogador da escola holandesa dos 70 (vice-campeã das Copas de 74 e 78) que pregava, entre outras coisas:
A) O jogador total, que pode atuar em qualquer posição (o estudioso Jairo Santos diz que é única escola em que o ponta vira lateral –quando este último avança);
B) Alta criatividade, seja com a bola nos pés, seja nos desenhos táticos de todo elenco;
C) Diminuição do espaço de jogo, com a defesa avançando em linha para deixar o adversário em constante fora de jogo;
D) Prática do futebol ostensivamente para a frente, ofensivo.
Inconformado com os rumos defensivos que o futebol, principalmente na Europa, tomou, Cruyff usou todo o poderio do Barça para uma cruzada pelo jogo ofensivo.
Ele tornou-se um missionário (a revista francesa "Onze" chamou-o de Messias) que não só levará o seu time à vitória, mas que também salvará o futebol.
Nenhum outro grande time do mundo joga tão para a frente e correndo tanto risco de tomar gols como este Barcelona –que vive o sexto ano da era Cruyff.
Vale a pena o risco? Veja os números:
1) O Barça é campeão espanhol pela quarta vez consecutiva (em um campeonato que fica cada vez melhor e mais difícil);
2) O time marcou 91 gols na temporada espanhola (sua média é de 80 gols);
3) O time está a 23 jogos sem perder;
4) Em seis anos, ele disputa a sua quarta final européia. Nada mal, não é mesmo?
Ontem ele voltou a dizer que se o Barça vencer hoje, será importante para o futebol. Já que os times imitam os campeões, que o campeão seja o mais ofensivo.
Veja abaixo as opiniões de Cruyff (tiradas do seu último livro) sobre alguns dos jogadores menos conhecidos que atuarão hoje:
Zubizarreta (goleiro): pertence ao que se poderia chamar de goleiro da velha guarda, dos que têm problemas para jogar com o pés, mas têm outras virtudes;
Ferrer (defesa): sua origem é o meio-de-campo. Nós o recuamos e hoje sabe marcar do lado direito e do lado esquerdo e, ao mesmo tempo, é muito rápido;
Nadal (defesa): é o jogador sonhado por qualquer treinador de futebol. É forte, polivalente e com vontade de ganhar. É um homem imprescindível para mim;
Guardiola (meio-campista): rapidíssimo, sempre sabe o que deve fazer com a bola. Antes de receber já tem um par de opções e sempre escolhe a melhor.
Amor (meio-campista): um garoto da casa, também um jogador completo. Sua polivalência permite jogar na defesa, nas laterais do meio-de-campo e marcar gols;
Bakero (meio-campista, atacante, capitão): lembra o Sócrates, faz com um toque o que outros precisam de três; está sempre desmarcado, sempre é opção de passe.
Mesmo que o Barcelona perca hoje, as idéias de Cruyff haverão de permanecer.

Texto Anterior: Barcelona é mais técnico
Próximo Texto: Ataque do time é arrasador
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.