São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Biscaia diz que gravações podem ligar bicheiros ao tráfico de drogas

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O procurador-geral de Justiça do Rio, Antônio Carlos Biscaia, disse ontem que as gravações das conversas dos bicheiros pelos telefones do Instituto Penal Vieira Ferreira Neto, em Niterói, revelam a existência de "negócios não muito claros".
Segundo Biscaia, esses negócios não são relacionados ao jogo do bicho. As conversas podem comprovar as ligações dos bicheiros com o tráfico de drogas.
Nas 15 fitas que já foram transcritas (foram gravadas 70), há referências a negócios envolvendo "arma e pó", numa conversa entre dois homens, um dos quais preso do Vieira Ferreira Neto.
"Estou marcando com o Fernando da Imobiliária, tem que correr atrás da cruz, o Fernando tem uma situação lá em cima de arma e pó, molinho, molinho (operação fácil de ser feita)", afirma o homem segundo a transcrição.
Uma conversa do bicheiro Valdemir Garcia, o Miro, com uma mulher chamada Vanda revela a preocupação dele em desvincular sua ligação com o tráfico de drogas.
Miro fala sobre notas fiscais de soja vendida para provar que não planta maconha. Vanda responde dizendo que está rezando e fazendo obrigações para o santo.
O Ministério Público vai investigar a participação dos bicheiros no tráfico internacional de drogas como financiadores.
Pista
A principal pista do Ministério Público são as casas de câmbio. Elas funcionariam como ponto de lavagem do dinheiro arrecadado.
Os promotores vão orientar a investigação a partir da prisão de José Luís Soares da Silva, o Tenório, apontado como chefe do tráfico de drogas na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana.
Ele foi preso no dia 25 de abril com US$ 50 mil. Segundo o depoimento de Tenório à Justiça, o dinheiro foi fornecido por uma casa de câmbio e seria usado para subornar policiais.
Tenório é presidente da escola de samba Unidos de Vila Rica e integrante da Liga das Escolas de Samba (Liesa).
Os promotores querem comprovar a existência de ligações entre Tenório e os bicheiros.
Nos disquetes apreendidos na fortaleza de Castor de Andrade em Bangu (zona oeste), no dia 30 de março, há telefones de Cali e Medellin, na Colômbia.
As duas cidades são sedes de dois cartéis de tráfico de cocaína.

Texto Anterior: Ajuda de custo divide os sindicalistas
Próximo Texto: PM estoura fortaleza de Castor
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.