São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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Desmatamento polui mais que garimpo

MARCELO LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Desmatamento, e não o garimpo do ouro, pode ser a principal causa da poluição com mercúrio na Amazônia. São portanto dois os vilões que ameaçam com envenenamento as populações ribeirinhas.
O alerta foi dado por Marcello Mariz da Veiga e John Meech, da Universidade da Columbia Britânica (oeste do Canadá). Veiga é brasileiro e faz doutoramento com Meech na área de mineração.
Eles calcularam que, em 1988, a queima da floresta lançou 26% mais mercúrio na Amazônia brasileira do que o garimpo. Foram 88 e 70 toneladas, respectivamente.
O mercúrio, metal líquido e prateado conhecido também pelo símbolo Hg, provoca danos graves à saúde humana (leia abaixo). É queimado com o ouro, nos garimpos, para separar impurezas.
Cerca de 80% do mercúrio queimado evapora e vai para a atmosfera. O restante é despejado com os rejeitos de minério nos rios.
Veiga e Meech estavam intrigados com índices altos de mercúrio na urina de populações ribeirinhas distantes de garimpos. Em artigo na revista "Nature" de 28 de abril, citam o caso de Jacareacanga e Brasília Legal, oeste do Pará.
As duas cidades estão à beira do rio Tapajós. Se o mercúrio fosse levado só pelo rio, apenas Brasília Legal (250 km abaixo do garimpo) deveria apresentar contaminação.
Outras pesquisas do Cetem (Centro Tecnológico de Mineração), onde Veiga trabalhou por sete anos, mostravam que o mercúrio evaporado não chega tão longe.
"Alguma coisa não estava batendo", diz Veiga, atualmente em viagem de negócios ao Brasil. Surgiu então a idéia de garimpar esse mercúrio excedente nas árvores.
Seres vivos sempre contêm algum mercúrio. Nas plantas, as concentrações mais altas são da ordem de 0,1 parte por milhão (ppm). Ou seja, 1 grama de mercúrio para 10 toneladas de plantas.
Depois de muitas contas, Veiga e Meech estimaram que os 50.000 km2 desmatados na Amazônia em 1988, uma área quase do tamanho da Paraíba, resultaram em 88 toneladas de mercúrio no ambiente.
"Não existe porém a intenção de dizer que a poluição dos garimpos não é importante", afirma o pesquisador brasileiro.

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