São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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EUA invadem Cannes com independentes

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Cannes-94 confirma em todas as suas mostras: vive-se uma "nouvelle vague" no cinema independente americano.
Enquanto Hal Hartley assumiu ares de grande mestre com "Amateur", Quentin Tarantino volta com tudo ao festival que o revelou com "Cães de Aluguel".
O desconhecido de ontem é o nome de hoje. Seu "Pulp Fiction", programado para sábado, é o último grande favorito à Palma de Ouro.
Tarantino já assume o papel de padrinho. Sua ponta comentando "Ases Indomáveis" como filme "gay" é dos melhores momentos de "Sleep With Me", uma simpática, ainda que irregular, comédia do estreante Rory Kelly.
O apoio de Tarantino e de seu produtor Lawrence Bender (a nova estrela da categoria) foi fundamental ainda para a viabilização de uma das revelações do festival –"Fresh", de Boaz Yakin.
Exibido na Quinzena, "Fresh" é um cético e envolvente retrato do submundo das drogas no Brooklyn nova-iorquino sob o ponto de vista de um adolescente negro (Sean Nelson, um fenômeno).
Apadrinhados por Steven Soderbergh foram também Scott MacGehee e David Siegel, diretores do ousado "Suture", exibido ontem em "Um Certo Olhar". Rodado em cinemascope e preto-e-branco, "Suture" desequilibra as convenções do thriller clássico.
A velha trama que opõe irmãos gêmeos rui quando um deles é branco, o outro, negro, e todos agem como se a semelhança fosse total.
"Suture" representa o mais estranho filme da presente safra, ao que dizem, ao lado de "Clean, Shaven", programado para hoje, em que Lodge Kerrigan pesquisa o passado de um esquizofrênico.
Com "I Like It Like That", a novata Darnell Martin obteve o mais folgado orçamento (US$ 6 milhões) para realizar sua visita a uma cindida família do Bronx.
Kevin Smith tomou dinheiro emprestado, estourou o cartão de crédito, vendeu sua coleção de histórias em quadrinhos, tudo para levantar os US$ 27 mil (isso mesmo) necessários para rodar seu filme de estréia, "Clerks", um dos sucessos de público do recente Sundance Film Festival e da Semana da Crítica de Cannes-94.
Rodado em preto-e-branco, com atores amadores e centrado completamente em diálogos, "Clerks" é uma irregular comédia apoiada nas experiências do diretor como caixa de uma loja de conveniência.
Memórias íntimas foram a fonte também de "Picture Bride" da nipo-americana Kayo Hatta. A trama gira em torno da escolha das noivas para os primeiros japoneses que foram trabalhar no Havaí.
A estudada aposta em audiências específicas ("gays", etnias, experimentalistas etc.) é regra básica da cartilha dos novos independentes.

O crítico AMIR LABAKI está em Cannes a convite da organização do festival

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