São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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Schlondorff dá lição sobre o prazer de filmar

AMIR LABAKI
DO ENVIADO ESPECIAL

O cineasta alemão Volker Schlondorff batizou de "Prazer e Privilégio de Fazer Cinema" a palestra que confessou ter improvisado na tarde de ontem em Cannes.
O diretor de "O Tambor", premiado com a Palma de Ouro de 1979, proferiu a "Lição de Cinema" de Cannes-94, honra que nos últimos anos coube a Wim Wenders e Bertrand Tavernier.
Schlondorff abriu sua fala lembrando que não seguiu um curso regular de cinema.
"Me preparei com o crítico Henri Agel para tentar entrar no IDHEC (Instituto de Altos Estudos Cinematográficos, já extinto) mas não consegui", recordou.
"Havia poucas vagas. Por sorte, Jean Austache (cineasta francês que se suicidou em 1981) começava então a rodar um filme e entrei assim como assistente para o cinema."
"Tive duas escolas", frisou. "A primeira foi a Cinemateca Francesa. Durante dois anos, ia lá diariamente, mesmo sem saber o que passaria. Metade do que vi era cinema mudo, o que me marcou muito. Até hoje, quando termino a montagem de um filme, o projeto sem banda sonora para saber se ele funciona."
A segunda experiência formadora fundamental foi a assistência de direção. "Recomendo enfaticamente a todos os estudantes de cinema que, ao fim do curso, façam uma pausa antes da sequência do primeiro, segundo, terceiro filmes para se dedicar à assistência. Aprendi muito trabalhando e observando os cineastas mais velhos", disse Schlondorff.
Jean-Pierre Melville, Louis Malle, Alain Resnais e Bertrand Tavernier foram os principais diretores com os quais Schlondorff trabalhou.
"Achar o equilíbrio entre a perseverança e a renúncia a forçar demais as coisas foi uma das lições", sustentou o cineasta alemão.
Outra: "Para toda equipe, é fundamental que o cineasta seja sedutor, cada qual a sua maneira."
Schlondorff aproveitou sua palestra para criticar a excessiva proliferação de imagens. "Odeio este povo todo com câmeras portáteis lotando a Croisette."
Driblando o reacionarismo, reconheceu contudo que a popularização do vídeo exige uma renovação da gramática cinematográfica clássica.
Mas foi irredutivel num ponto: "O filme é uma experiência muito mais intensa na sala escura de cinema".

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