São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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Primeiro capítulo de `Memorial' é impecável

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há muito tempo os espectadores de TV não viam um produto tão impecável como o primeiro capítulo da minissérie "Memorial de Maria Moura", que estreou anteontem na Globo.
Para ser mais específica, desde os primeiros capítulos de "Renascer" que –destino de toda novela– logo degringolou e ficou na saudade.
"Memorial de Maria Moura" vem reafirmar a soberania das minisséries, mais enxutas e, portanto, fortes. E por isso mesmo bem mais dispendiosas que as novelas e talvez fadadas à extinção. Pena.
A começar pelos atores, "Maria Moura" surpreende. Se a personagem central não podia ser outra que Glória Pires (mais uma vez impressionante), os atores ditos "secundários" não ficam atrás.
São excelentes as atuações de Celso Grateschi como Liberato, o padastro de Maria Moura, Otávio Muller e Ernani Moraes, como os primos Irineu e Tonho, e Zezé Polessa como Firma.
As cenas no sítio dos primos fazem o espectador entrar com tudo no ambiente de "buraco do mundo" que a série quer passar.
Aqueles personagems que cospem e se batem enquanto comem com as mãos parecem saídos do lugar mais esquecido da história humana.
"Memorial de Maria Moura" acerta a mão ao não pretender fixar a trama em lugar e "sotaque" reconhecíveis. Prefere trabalhar com um arquétipo de sertão, que representa justamente um lugar perdido no mundo.
Os personagens, ao contrário do que costuma acontecer em adaptações para TV, não perdem em densidade nem ambiguidade.
A própria Maria Moura não precisou aparecer como vítima absoluta do mundo dos homens para ser automaticamente assimilada pelo espectador como heroína incontestável.
Neste primeiro capítulo, todas as cenas em que Maria Moura comete, como se diz, "o pecado da carne" com o padastro são acompanhadas de um silêncio que pode ser interpretado como "quem cala consente".
O que não tira a legitimidade do ódio que a personagem irá dedicar ao padastro. Sua "ignorância", no melhor sentido da palavra, é sua melhor arma.
"Maria Moura" é bem-sucedida também no uso das paisagens. Ao contrário do riacho-enrolação ou do campo-embromação, cada cena da minissérie (pés, patas de cavalos ou montanhas) contribuem para a narrativa.
Se as equipes de produção e direção de Maria Moura têm todos esses méritos, não se pode esquecer que por trás da bem-sucedida minissérie se encontra uma ótima história, a do romance de Raquel de Queiroz.

Minissérie: Memorial de Maria Moura
Adaptação: Jorge Furtado e Carlos Gerbase, do romance homônimo de Raquel de Queiroz
Direção artística: Carlos Manga
Direção: Denise Saraceni, Mauro Mendonça Filho, Marcelo Barreto e Roberto Farias
Elenco: Glória Pires, Kadu Moliterno, Bia Seidl, Cristiana Oliveira, Marcos Palmeira, Jackson Antunes, Zezé Mota, Zezé Polessa e outros
Horário: de terça a sexta, às 22h30
Emissora: Rede Globo

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