São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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'Photoplay' eleva fotografia a obra-de-arte

ANA MARIA GUARIGLIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Exposição: Photoplay - Coleção do Banco Chase Manhattan
Onde: Museu de Arte de São Paulo (av. Paulista, 1.578, tel. (011) 251-5644)
Quando: de terça a domingo, das 13h às 17h; sábados e domingos, das 14h às 18h; até 26 de junho
Quanto: CR$ 1.500,00
Palestra: O Uso da Fotografia por Artistas Plásticos
Onde: auditório do Museu de Arte de São Paulo (av. Paulista, 1.578)
Quando: amanhã, às 19h
Quanto: entrada franca
Um elenco de 77 artistas contemporâneos compõe a exposição "Photoplay", que começa hoje no Masp (Museu de Arte de São Paulo).
A coletânea é formada por 105 trabalhos produzidos nos últimos 30 anos e pertence ao Banco Chase Manhattan.
Segundo os organizadores, a proposta da retrospectiva é celebrar a arte da fotografia por meio das obras de artistas como Andy Warhol, David Hockney, Gordon Matta-Clark, Sol LeWitt, Cindy Sherman e Robert Mapplethorpe, entre outros.
Eles substituíram a prática convencional da fotografia em "captar' uma imagem por "criar" uma imagem, incorporado a ela outras formas de expressão.
Utilizaram os elementos do desenho e da pintura e processos de impressão como a gravura e a serigrafia (impressão sobre superfícies, em que a tinta é premida por um rodo).
O resultado das experiências revolucionou a estética da fotografia, baseada na nitidez e na composição perfeita das cópias. Em compensação, ela foi conduzida ao centro do universo artístico.
A trajetória da mostra começa na década de 60, com as obras de Andy Warhol (1928-1987), a estrela maior da retrospectiva, que aproximou arte da cultura pop.
A mostra traz dez painéis serigrafados dos heróis mitológico-populares, como o rato Mickey, de Walt Disney, papai-noel, Drácula, Tio Sam e próprio Warhol.
Ao reproduzí-los em série, o artista recolocou as imagens emprestadas da cultura popular em um contexto artístico, destruindo o antagonismo imposto pela arte entre o objeto original e a cópia.
Warhol marcou uma geração de artistas, razão pela qual, na década de 70, a mostra apresenta uma variedade de produções, incluindo o instigante David Hockney.
Admirador de Pablo Picasso (1881-1974) e do cubismo, Hockney nega a realidade visual e a perspectiva dos objetos e os contempla em sua totalidade, como se fossem vistos de todos os lados.
"A Ponte de Brooklin", exposta no Masp, exemplifica seu ideal estético. A partir de reproduções feitas com filmes Polaroid, os elementos da imagem foram reposicionados pela técnica da colagem.
Além da ausência de perspectiva, normalmente incorreta na foto convencional, a nova configuração do espaço estimula a impressão da tridimensionalidade e da sensação do movimento.
Gordon Matta-Clark (1943-1978) também ultrapassa a composição retilínea da fotografia, praticando a "anarquitetura".
Na obra "Circo, a Laranja do Mar do Caribe", ele mostra a prática dessa arte híbrida, originária da mistura da escultura, arquitetura e fotografia.
Alguns artistas, como Joseph Beyus, Ana Mendieta e Bruce Nauman, preocuparam-se em documentar sua performances corporais, feitas em público ou esclusivamente para a câmera.
Cindy Sherman é um dos destaques da exposição dos anos 80. A dinâmica da fotografia é usada por ela como veículo para críticas feministas de representação.
O portfolio de naturezas mortas, com vários tipos de flores, e o auto-retrato, feito pouco antes de morrer, são os trabalhos expostos de Robet Mapplethorpe (1946-1989).
São obras puramente emocionais, empenhadas em dimensionar o jogo de luz e de sombra, que metaforiza a existência e a morte.
Para ilustrar a mostra, os organizadores programaram uma palestra aberta ao público, que será realizada amanhã, às 19h, no auditório do Masp.
Estarão participando, entre outros, a fotógrafa Sherrie Levine, presente na coletânea, Robert Rosenblum, da Universidade de Nova York, a crítica norte-americana Vicki Goldberg.

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