São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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Ernest Gellner atira contra o relativismo

BERNARDO CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ernest Gellner, 69, não prepara suas palestras. "Tenho tudo preparado aqui", disse o antropólogo social à Folha, apontando para a própria cabeça.
Gellner não preparou a palestra que proferiu na terça à noite, abrindo o ciclo Banco Nacional de Idéias, organizado por Antônio Cícero e Waly Salomão, com o tema "O Relativismo enquanto Visão de Mundo".
Conhecido no Brasil sobretudo pelo ataque corrosivo que fez à psicanálise como instituição social em "O Movimento Psicanalítico" (Zahar), o antropólogo parece seguir um método próximo ao da livre associação –que tanto criticou na teoria freudiana– para concatenar seus pensamentos em público.
Para expor sua ofensiva contra o relativismo como corrente de pensamento, Gellner atirou para todos os lados. Passou três séculos em duas horas em uma frequência associativa que lembrava a escrita automática dos surrealistas.
"Acredito que a verdade absoluta é inimiga do dogmatismo. Não quero dizer que possuímos essa verdade, mas que ela existe. Devemos pensar sobre uma verdade única em vez de achar que tudo é igual", disse.
Para defender seu ponto de vista, o professor aposentado de Cambridge e membro da Academia Britânica traçou um panorama muito pessoal e simplificado da história das idéias, de Descartes aos nossos dias, mostrando os diversos momentos da noção de diversidade.
A erudição, no entanto, não é suficiente para uma boa costura das idéias, que Gellner, nesta palestra, parecia desprezar.
A impressão era de algumas frases de efeito ("O relativismo serve para a gastronomia: entre um restaurante indiano e um italiano, não pergunto qual é melhor mas qual me dá mais vontade") numa verdadeira salada de interpretações e conclusões, que podem funcionar como provocação mas dificilmente se sustentariam numa arguição mais incisiva e sistemática.
Os outros membros da mesa –o antropólogo Luis Roberto Cardoso de Oliveira (UNB) e o cientista político Renato Lessa (Iuperj)– não conseguiram fazer perguntas que atingissem os pontos mais frágeis desse discurso.
O ciclo continua até amanhã, no Espaço Banco Nacional. Ontem foi a vez do professor de filosofia Bento Prado e dos debatedores Sérgio Cardoso e Paulo Arantes.
Hoje, fala o americano Richard Rorty, com Luis Eduardo Soares e José Arthur Giannotti. Amanhã, o conferencista é o alemão Peter Sloterdijk, tendo como debatedores o professor Carneiro Leão e Fernando Gabeira. Os ingressos estão esgotados para todo o ciclo.

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