São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 1994
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Sonic Youth lança seu álbum mais `suave'

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

Os fãs ficaram preocupados quando o Sonic Youth, símbolo do underground nova-iorquino e "avós" do grunge, decidiram assinar com uma grande gravadora (Geffen) em 1990.
Mas o resultado foi três grandes discos: "Goo" (90), "Dirty" (92) e "Experimental Jet Set, Trash And No Star", lançado na semana passada no Primeiro Mundo.
A banda considera este disco mais "suave" do que o anterior "Dirty", gravado em meio a turnês com o Nirvana e Mudhoney.
"Eles eram tão intensamente rock que nós sempre achávamos que deveríamos tocar mais pesado e mais alto", diz a vocalista e baixista Kim Gordon.
Se "Experimental" ficou mais suave em volume e peso, não perdeu nada da distorção e barulho "artístico" que são marca da banda. A parede de guitarras destoantes, os vocais gritados, sussurados, microfonados, estão presentes em todas as faixas.
O vocal sensual e às vezes erótico de Kim é ouvido em metade das faixas do disco. A outra metade é cantada por seu parceiro e guitarrista Thurston Moore, de quem Kim está grávida de oito meses.
Os dois já eram um casal desde a formação do Sonic Youth, em 1981, na primeira leva de bandas pós-punk. Integraram a chamada "No Wave" em Nova York, fazendo um punk mais "erudito" e "artístico".
No novo disco, "Bull in the Heather" traduz bem a originalidade do som da banda. Estão lá as distorções, as mudanças abruptas de clima e o vocal sensual de Kim soltando frases desconexas descrevendo um local de apostas em corridas de cavalo e ao mesmo tempo convidando o amante para o amor –"me diga que você vai me escolher".
Em "Tokyo Eye", o que seria o solo de guitarra(s) é mais uma sobreposição de riffs se sucedendo freneticamente.
Na penúltima das 14 faixas, "In The Mind Of The Bourgeois Reader", o Sonic Youth não resiste ao peso e ataca no melhor estilo grunge. Logo depois vem "Sweet Shine", a faixa que mais chega perto de uma balada romântica.
Sonic Youth não é mais tão "youth" (juventude) assim. Kim já tem 40 anos e o resto da banda passou dos 30. Eles até pensaram em mudar de nome. Mas, explica o guitarrista Lee Ronaldo, " `youth' é mais um estado de espírito, nosso som é livre e jovial".
Para a Geffen, talvez seja livre demais. Fica difícil escolher uma música de "Experimental" para tocar nas rádios, faceta da qual a banda se orgulha.
Mas a gravadora também não tem de que reclamar. Se Sonic Youth não virou um Nirvana, o falecido Kurt Cobain admitiu que assinou com a Geffen seguindo os passos de uma de suas bandas favoritas.

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