São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 1994
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Proposta econômica sai só depois do real

FERNANDO RODRIGUES

FERNANDO RODRIGUES; CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT montou ontem uma operação abafa para neutralizar a divulgação de uma proposta econômica de Paulo Nogueira Batista Júnior, um dos economistas do partido.
Paulo Nogueira defende a utilização de garantias internas do país para a nova moeda, o real, que será lançado em 1º de julho.
Em vez de atrelar o real apenas ao dólar, um eventual governo petista utilizaria o patrimônio de empresas estatais, por exemplo, para garantir o valor da moeda, segundo defende Paulo Nogueira.
Logo de manhã, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, desqualificou a idéia: "A proposta tem oposição da maioria no Diretório Nacional do partido."
"Nós somos contra a dolarização e vamos falar isso sempre. Mas não temos como dizer o que um governo petista fará com a moeda porque nem o Itamar sabe isso", disse o deputado federal Aloizio Mercadante (PT-SP).
Mercadante é economista e o principal assessor de Lula nessa área. Dentro do partido, é considerada como certa a sua indicação para o Ministério da Fazenda, no caso de uma vitória petista.
Ontem à tarde, Mercadante fez questão de dizer à imprensa que era contra a proposta de Paulo Nogueira –que estava sentado ao seu lado na hora da declaração.
"É apenas uma proposta entre muitas e estamos discutindo", disse Paulo Nogueira. Está descartada, também, a possibilidade de tentar negociar com a atual equipe econômica a gerência do real.
Mercadante se recusou a dizer quais são a principais opções de política monetária que seu partido analisa.
Na avaliação do deputado, qualquer que seja a forma de implantação do real, a moeda já vai estar "deteriorada" em janeiro –quando assume o próximo presidente.
Indagado se o PT modificaria imediatamente a política monetária –no caso de a economia estar dolarizada–, Mercadante respondeu que não. "Dolarização é o tipo de coisa que é fácil para entrar. mas muito difícil para sair."
A dolarização, diz o deputado, causa "caos" na economia. Em um governo petista, primeiro se tentaria recuperar setores considerados importantes. "Teríamos que ver, por exemplo, quais os bancos vamos ter que socorrer. Não podemos deixar um Banco do Brasil quebrar."

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