São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 1994
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EUA lembram aventura do front

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O trabalho do repórter fotográfico na guerra foi definido assim por um deles, W. Eugene Smith: "Você tem que se levantar quando qualquer pessoa de bom senso se joga no chão".
As fotografias jornalísticas da Segunda Guerra Mundial são o grande chamariz da exposição "Reportando a Guerra", que abriu este mês em Washington na Galeria Nacional de Retratos e termina em 5 de setembro.
Embora a galeria seja um dos museus mais tradicionalistas do complexo do Instituto Smithsonian, neste caso a estrutura da exibição é dinâmica.
Gravações do jornalista Edward Murrow, entrevistas em vídeo com repórteres da época, inclusive William Shirer (autor de "Ascensão e Queda do Terceiro Reich"), cartuns, mapas, filmes e desenhos podem ser vistos ali.
A mostra está usufruindo da grande divulgação que se começa a dar ao cinquentário do Dia D, a invasão aliada do continente europeu dominado pelo nazi-fascismo, que se comemora no próximo dia 6.
Duas das três revistas semanais de informação agora nas bancas dos EUA trazem na capa reportagens especiais sobre o Dia D. Em uma delas, a "Newsweek", o grande destaque são textos e fotos de Robert Capa.
Capa (1913-1954), fundador da agência fotográfica Magunm, cobriu a Segunda Guerra para a revista "Life".
No Dia D, fez questão de estar na primeira leva de soldados americanos a desembarcar na Normandia.
Suas fotos e relatos são de intensa dramaticidade. Capa, que morreu na Guerra da Indochina ao pisar em uma mina, se dizia "um jogador". Na Segunda Guerra, ele teve sorte. No Sudeste asiático, deu azar.
A Segunda Mundial foi a guerra dos sonhos dos militares americanos. O moral coletivo doméstico era excelente.
Apesar do racionamento e da apreeensão generalizada (16,3 milhões de americanos lutaram na Europa, Ásia e África), o país estava unido e otimista em relação a seu papel.
Aventura radiofônica
Livre de ataques aéreos ou combates em suas fronteiras continentais, os americanos que ficaram em casa puderam acompanhar a guerra como se fosse uma aventura radiofônica ou cinematográfica real.
No prefácio ao livro publicado para acompanhar a mostra, Alan Fern, o diretor do museu promotor, descreve com perfeição esse tipo de felicidade cívica vivida pelo país entre Pearl Harbour e Hiroshima-Nagasaki.
O papel dos jornalistas na elevação do espírito nacional foi muito importante.
Telenovela real
As narrações desde Londres sob bombardeios nazistas feitas para a CBS por Edward Murrow, talvez o mais popular jornalista da história do país, obtinham audiências como de finais de telenovela no Brasil.
Fern narra seu cotidiano de adolescente em Detroit, ouvindo Murrow e H. V. Kaltenborn, comprando as diversas edições extras diárias do "Free Press", correndo às bancas todas as semanas para assegurar uma cópia de "Life", acompanhando os avanços das tropas americanas na cartografia de Robert Chapin em "Time", vibrando no cinema com cenas dos cinejornais.

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