São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 1994 |
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Kahtleen Battle canta hoje no Municipal
LUÍS ANTÔNIO GIRON
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel.011/222-8698) Quando: hoje e segunda-feira às 21h Quanto: CR$ 30 mil (anfiteatro) e CR$ 75 mil (galeria). Só para o espetáculo de hoje. Lotação está esgotada para segunda-feira. A soprano norte-americana Kathleen Battle, 45, contrariou os prognósticos sobre seu estrelismo. A ex-diva do Metropolitan Opera House canta hoje e segunda-feira no Teatro Municipal sem ter feito –até agora– grandes exigências ou dado vexame. Está hospedada desde terça-feira no hotel Maksoud numa suíte cujo número a Sociedade de Cultura Artística, que traz a soprano, não revela. O cachê também é um mistério. A Folha apurou que ela não cobra menos do que US$ 100 mil por duas apresentações. Trazê-la só foi possível com o investimento dos quatro patrocinadores da SCA, que ganham em troca prestígio e convites. As exigências da cantora são bem menores do que as 52 de sua colega, a neo-zelandesa Kiri Te Kanawa, que se apresentou no último ano. Pediu quatro coisas: chá de hortelã, mel, toalhas felpudas e distância de cigarros. Anteontem à tarde visitou o Museu de Arte Sacra, no centro da cidade. Ontem, foi ao Masp. Ninguém a reconheceu. Ela tentou até conversar com seus acompanhantes, munida de um livro de frases português-inglês da Berlitz. Ensaiou à tardinha no Municipal e se recolheu ao hotel. Um comportamento totalmente estranho à sua fama. Kathleen se celebrizou tanto pela voz como pela conduta errática. Foi expulsa do elenco do Metropolitan no dia 7 de fevereiro deste ano por insubordinação. Estava há 17 anos no emprego e ensaiava para estrelar a ópera "A Filha do Regimento", de Donizetti. Segundo a revista "Vanity Fair" deste mês, o elenco comemorou alegremente a demissão da cantora. Não faltam histórias sobre ela. Notabilizou-se pelos papéis leves e a voz pura. Desde o início foi apadrinhada pelo maestro norte-americano James Levine, diretor artístico do Met. A carreira ganhou impulso em 1982, quando interpretou Rosina na ópera "O Barbeiro de Sevilha". Em 1988, levou 150 mil pessoas ao Central Park, para ouvi-la cantar "O Elixir do Amor", de Donizetti, ao lado do tenor espanhol Plácido Domingo. A conduta narcisista e irascível de Kathleen se deu num crescendo. Discussões com maestros e colegas, caprichos exagerados e retiradas barulhentas fizeram com que os músicos do Met criassem uma brincadeira antes dos ensaios para uma nova ópera com a soprano. "Será que vamos sobreviver à Battle?", perguntavam-se entre si, num trocadilho com a palavra inglesa "battle" (batalha). Em 1988, ela chegou aos píncaros do divismo. Num ensaio para a ópera "Giulio Cesare", de Haendel, ela tirou a batuta do maestro inglês Trevor Pinnock e quis reger a orquestra. Em Tóquio, no mesmo ano, durante "As Bodas de Fígaro", de Mozart, provocou a ira de Levine por haver discutido com uma colega. Desde então, Levine jurou que não a regeria mais. Resta uma pergunta: o público paulistano sobreviverá à cantora? Ela opta por um recital discreto. Interpreta uma dezena de "lieder" do compositor austríaco Franz Schubert (1797-1828) e três do alemão Richard Strauss (1864-1949) –os difíceis "Três Lieder de Ofélia, Op. 67". A contar com sua forma vocal e o programa invulgar, o público provavelmente sucumbirá à Battle. Texto Anterior: Leite de magnésia; Esturjão Próximo Texto: Soprano não é nova Callas Índice |
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