São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Os fraudadores em ação

JANIO DE FREITAS

O Congresso não admite a moralização das concorrências públicas. Já estão com o presidente Itamar Franco, para aprová-las ou vetá-las, modificações propostas pelo Congresso na recente lei que tornou um pouco mais difíceis as bandalheiras das concorrências pelo cartel das grandes empreiteiras.
A proposta do Congresso inclui o retorno à exigência de que uma construtora, para candidatar-se a determinada obra, já tenha feito outra obra equivalente a pelo menos 50% da que estiver em concorrência. É por essa exigência que se reduz o número dos competidores, ficando assim facilitados os acordos entre as empreiteiras habilitadas, para dividir as obras e combinar os preços a serem impostos ao governo.
O argumento em defesa da exigência é absolutamente falso. Pretende que ela comprova a experiência da empreiteira "vencedora". Mas, na verdade, a capacidade técnica de uma empreiteira não se relaciona com suas obras passadas e, sim, com o seu corpo de técnicos por ocasião da nova obra. A equipe da obra anterior pode ter sido toda substituída.
O relator da proposta do Congresso, Walter Nory, e o líder do governo na Câmara, Luis Carlos Santos –ambos, não por acaso, do PMDB de São Paulo– já transmitiram às grandes empreiteiras que está tudo articulado para a aprovação pelo presidente. Em duas semanas se saberá se Itamar Franco confirma a articulação.
Boa cena
A regra mais primária da tática de confrontos –em guerras, na política, no esporte– consiste em não fazer o que o adversário quer que se faça. Ainda assim, digamos que Lula aceitasse o debate a dois sobre inflação, que Fernando Henrique Cardoso lhe propõe.
Doutoral, à vontade, sorridente, Fernando Henrique faz outra das exposições com que esteve presente todos os dias nos jornais de TV. É a vez de Lula:
"Primeiro, recomendo ao professor Fernando Henrique que, ao se referir ao plano que vai tentar derrubar a inflação, não continue falando em `meu plano', no `plano que eu fiz', como diz sempre. Isso é apropriação indébita e apropriação indébita é crime. O plano é de André Lara Resende, com participações de Pérsio Arida, Pedro Malan e outros poucos economistas. Segundo, aqui está um gráfico. Esta linha que sobe tanto é a inflação enquanto o professor Fernando Henrique teve a obrigação, como ministro da Fazenda, de combatê-la. Ao fim de apenas seis meses, a inflação subiu 50%. Mais três meses, quando ele saiu, a inflação já tinha subido mais de 65%. Ele não tem autoridade para falar de combate à inflação. Convido-o para debater proximamente a concentração de renda e o aumento da dívida do governo durante sua gestão. Sobre isso ele pode falar. Até lá. Com licença e boa-noite".
Lula preferiu com a primeira regra dos confrontos e recusou o debate. Não recebeu ou não aceitou a sugestão que um não-lulista lhe mandou. Foi pena. Teria havido um momento enfim interessante, talvez até enriquecido pela reação de Fernando Henrique, na mediocridade destes dois meses de disputa eleitoral.

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