São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Cooperativa em Maceió livra alunos das paralisações do ensino público

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

A Associação de Moradores do Conjunto Graciliano Ramos, na periferia de Maceió (AL), criou uma cooperativa de ensino com o objetivo de livrar os alunos das frequentes greves que paralisam o ensino público alagoano.
A cooperativa foi criada há 15 meses e a maioria dos 220 alunos pertecen a famílias de baixa renda.
O principal resultado da criação da cooperativa, segundo o supervisor José Izaildo da Silva, 32, é o fato de os alunos da primeira turma terem concluído o ano letivo do ano passado.
Em 93, nenhum dos cerca de 100 mil alunos da rede estadual de ensino conseguiu concluir o ano letivo devido às greves de professores e servidores da educação.
A cooperativa de ensino é gerida por um conselho integrado pelo presidente da associação de moradores, um representante dos professores, um da diretoria, um aluno e um pai de aluno.
As decisões que envolvem aplicação de recursos ou aumento da cota (mensalidade) dos cooperarados são discutidas em assembléia dos moradores do bairro.
A cota de cada aluno cooperativado está fixada em dez URVs, preço até dez vezes menor que o das escolas particulares locais. Na pré-escola, o preço é seis URVs.
Há concorrência para vagas na escola. Estudantes de outros bairros se matricularam neste ano na cooperativa.
Com isso, a escola passou a ter 342 alunos –122 a mais que no ano de sua criação. Só há vagas disponíveis na oitava série do primeiro grau.
A psicóloga da escola cooperativada, Elizete Santos Balbino, 26, afirmou que o êxito da idéia não se deve apenas ao fracasso no ensino público no Estado.
"Nosso projeto educacional, que tem supervisão da Universidade Federal de Alagoas, é o ponto mais forte da escola", afirmou.
Os professores contratados passaram por testes psicológico e de conhecimento em suas áreas de atuação.
"Nós dispúnhamos do prédio e recusamos entregar a gerência da escola para o Estado e município, já que conhecíamos exemplos de cooperativas que funcionavam porque não visavam lucro", afirmou Silva, também diretor de ensino da associação de moradores local.
Quando os moradores decidiram executar o projeto, o prédio da escola não tinha cadeiras nem quadro negro, segundo Silva.
Em dezembro de 92, eles criaram uma cota de CR$ 200,00 para cada membro da associação e, com rifas e bingos, equiparam a escola até com ventiladores.
Cleoneide Santos da Silva, 18, cursa a quinta série e diz ter perdido três anos letivos nas escolas estaduais desde que começou a estudar.

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