São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Quércia é o político mais investigado do país

ELVIRA LOBATO; AMÉRICO MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

O virtual candidato do PMDB à Presidência da República, Orestes Quércia, 55, é a mais recente expressão da política brasileira a ter criado o seu próprio "ismo".
Em 35 anos de vida pública, Quércia fundou as bases do quercismo, cujo retrato combina os traços do populismo de Adhemar de Barros com a pregação desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek.
Sua gestão em São Paulo (87-91) poderia ser definida com o seguinte emblema: "Governar é construir estradas", frase atribuída ao presidente Washington Luiz. À frente do governo, Quércia transformou o Estado num grande canteiro de obras.
No período, as sete grandes construtoras do país engordaram seus borderôs com US$ 49,4 bilhões. No governo Franco Montoro (83-87), ficaram com US$ 28,3 bilhões.
Tal desenvoltura com o dinheiro do contribuinte rendeu muitos votos a Quércia e também fez dele o político em atividade mais investigado do país.
Há exatos 24 anos, prefeito de Campinas (SP), foi acusado de desviar trilhos da extinta Ferrovia Mogiana para sua fazenda em Pedregulho (SP). As denúncias cresceram na proporção de sua ascensão política.
Hoje, Quércia pode ser processado pela Justiça sob a acusação de estelionato na compra de equipamentos israelenses, efetuada sem licitação. A operação, em 89-90, envolveu US$ 310 milhões.
Desprezado pelas elites no começo da carreira, o caipira de Igaçaba, distrito de Pedregulho, acabou conquistando o direito de dividir os salões com representantes da poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, onde tem amigos. Mas enfrenta a concorrência de Fernando Henrique Cardoso, o preferido declarado dos empresários.
Em todas as disputas que enfrentou, começou como azarão e derrotou adversários do porte de Carvalho Pinto, Mário Covas, Antônio Ermírio de Moraes, Paulo Maluf e Ulysses Guimarães -expressões da fina flor da elite paulista.
Nesta eleição, pode repetir a trajetória. A última pesquisa Datafolha lhe atribui 7% das intenções de voto contra 8% de Brizola, 16% de Fernando Henrique e 42% de Lula.
Sua "virilidade eleitoral", como definiu um adversário, se deveu a um paciente trabalho de construção do partido. O "mais mineiro dos políticos paulistas", na expressão de Tancredo Neves, criou, em 10 anos, mais de 300 diretórios do PMDB em São Paulo.
Quércia tanto andou no lombo do municipalismo como acenou ao rico interior paulista a bordo do boeing desenvolvimentista. Tomou conta do partido no Estado e no país. Hoje, o candidato do PMDB à Presidência move sua gigantesca máquina para, mais uma vez, tentar o que parece impossível.

"O PSDB não é um partido. É uma tese acadêmica
(20 de junho de 91, sobre os tucanos)
O candidato da direita é o Lula, com seu partido fascista
(22 de fevereiro de 94, sobre o líder do PT)
Brizola é um caudilho, mas o pensamento dele é muito razoável
(28 de outubro de 90, sobre o ex-governador do Rio)
O Zé Português é o PC do Quércia, só que é muito melhor
(9 de novembro de 90, sobre o seu tesoureiro de campanhas)
Dizem por aí que o Quércia é caipira. É caipira mesmo. Vamos mostrar como se ganha a eleição no interior. No segundo turno nóis conversa.
(26 de setembro de 90, sobre seu estilo)
Se fiz dívidas é porque fiz obras. O Estado não é para dar lucro, nem para ter dinheiro em caixa
(18 de janeiro de 91, sobre sua administração em São Paulo)
Não fiz um tostão de dívidas, o que, naturalmente, irrita meus adversários
(21 de dezembro de 91, sobre sua gestão em São Paulo)
Quem for traidor e não quiser apoiar o Quércia, que vá para o diabo que o carregue. Vou ganhar do mesmo jeito
(23 de setembro de 86, quando era dado como derrotado na eleição para governador)
Todo mundo mente na hora da explicação, todos os candidatos mentiram nas declarações de gastos feitas ao Poder Judiciário
(24 de dezembro de 93, sobre a prestação de contas de campanhas)
Só não sou candidato se morrer (...) Eu vou concorrer, mesmo que só tenha o meu próprio voto
(24 de março de 93, sobre sua participação na sucessão presidencial)
Estou com a Erundina e não abro. O mundo é das mulheres
(17 de novembro de 88, dois dias após a eleição da prefeita do PT em São Paulo)
Se não enxotar o Fernando Henrique, ele vai continuar falando, falando, ameaçando, e não sai do PMDB
(de junho de 88)
O doutor Ulysses Guimarães vai ser o Cristo do PMDB
(de junho de 88, sobre a candidatura do deputado à Presidência)
No Paraná, ele é conhecido como Maria Louca. Algumas vezes mais louca que Maria; outras mais Maria do que louca
(de agosto de 91, sobre Roberto Requião)"

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