São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Rebouças e JK terão "pequenos túneis"

Passagens subterrâneas vão tentar garantir fluxo

VICTOR AGOSTINHO; LUIZ HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Passam atualmente pela Faria Lima 2,5 mil veículos por hora a uma velocidade média de 20 km/h. A previsão do arquiteto Júlio Neves, autor do projeto viário, é que em 1996 passem pela nova avenida 3,5 mil veículos a 32,5 km/h.
A expectativa de Júlio Neves considera a construção de três passagens de nível (pequenos túneis) nas esquinas das avenidas Rebouças, Cidade Jardim e Juscelino Kubitschek (JK).
Serão construídos ao todo –em Pinheiros e Itaim/Vila Olímpia– 3,6 quilômetros de avenida.
O suficiente para que, depois de prontos estes trechos, o sistema viário passe a ter 15 quilômetros contínuos.
O corredor começará na marginal Tietê, na altura do Cebolão, passará pelo Ceagesp, praça Panamericana, Faria Lima, Luís Carlos Berrini e terminará, por enquanto, no shopping Morumbi.
O escritório de Júlio Neves já começa a preparar novos estudos para o prolongamento deste corredor além do shopping Morumbi, em direção à ponte do Socorro.
"Ainda não tem trajeto definido, mas a Faria Lima pode chegar até depois do hotel Transamérica. Estamos fazendo estudos viários para vários pontos da cidade, inclusive para esta continuação", afirmou Júlio Neves.
Saturação
Segundo a CET, no horário de pico da manhã (entre 6h30 e 9h30) passam cerca de 1.200 veículos por hora na Faria Lima, no sentido Cidade Jardim-Pinheiros.
No pico da tarde (entre 17h e 20h), o movimento é de 1.900 veículos por hora.
No sentido contrário, Pinheiros-Cidade Jardim, no horário de pico da manhã, passam 1,7 mil veículos. No período da tarde, são cerca de 2,1 mil carros.
O engenheiro Leopoldo Massardi, morador da região, afirma que o trânsito vai piorar. Ele é o autor de um estudo encomendado pelos movimentos que se opõem à extensão da Faria Lima.
Segundo o estudo, a saturação da Faria Lima nos horários de pico vai aumentar com a permissão para que se construam novos prédios.
A avenida, de acordo com Massardi, tem capacidade para 1.200 carros por hora, em cada faixa, a 60 km/h (velocidade convencionda para simulações de tráfego).
Se houver um adensamento na região de 3 milhões de m2 de novas construções, haverá um acréscimo de 100 mil garagens, diz.
Se 10% desse total de carros sair no horário de pico, haverá um acréscimo de 10 mil veículos. "A nova avenida vai continuar saturada", diz o engenheiro.
Massardi lembra também que a Faria Lima vai servir como alternativa para a marginal, o que a deixará mais consgestionada.
Segundo ele, para atender a demanda de 10% dos novos usuários potenciais da Faria Lima, seria necessária a construção de seis faixas a mais de cada lado, além das quatro já existentes.
Para Massardi, a solução para o trânsito de São Paulo é o metrô. "Incentivar o transporte coletivo e desencorajar o individual é uma tendência mundial", diz.
Ele lembra ainda que o uso de autóveis é o grande responsável pela poluição nas cidades. "Na região metropolitana de São Paulo são despejados dois milhões de toneladas por ano de poluentes. Desses, 88% são produzidos pelos veículos", diz.
Alternativa
Roberto Scaringella, fundador e ex-presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego, acredita que a extensão da avenida Faria Lima vai melhorar o trânsito.
"Em uma cidade com 10 milhões de habitantes e 4 milhões de veículos, qualquer metro a mais de avenida é necessário", diz.
Para Scaringella, a Faria Lima hoje não se articula com o sistema viário da região. "Ela começa no largo da Batata e termina na Cidade Jardim. Este estrangulamento não deixa o trânsito fluir."
Para ele, a nova avenida será um corredor viário paralelo à marginal, contribuindo para que a velocidade média na região aumente.
"Distribuir o trânsito da marginal em avenidas importantes como a Bandeirantes e a JK é fundamental para São Paulo".
Ele lembra ainda que a marginal Pinheiros, no lado do rio em que fica a Faria Lima, tem sentido Santo Amaro-Pinheiros.
"Quem quer sair de Pinheiros e ir para o Morumbi tem que ir pela marginal, tendo que atravessar alguma ponte, que são pontos de estrangulamento", diz. Para Scaringella, a nova avenida deve desafogá-las.
Ele contesta a crítica de que a nova avenida só vai privilegiar os carros.
"O primado do transporte coletivo sobre o individual foi uma tese em moda nos anos 70. Hoje, não se pode ignorar que a cidade tem 4 milhões de veículos e que a Constituição permite que as pessoas comprem carros", diz.
Para Scaringella, a necessidade de facilitar a vida dos motoristas se justifica pela falta de transporte público eficiente.
"São Paulo tem 45 km de metrô, contra 300 km em Nova York, 200 km em Tóquio, e 300 km em Paris", diz ele.
Para Horácio Galvanese, do movimento Pinheiros Vivo (contrário ao prolongamento), "o trânsito na Faria Lima nunca vai ser bom. As transversais são muito carregadas. Este trânsito local e os semáforos vão continuar segurando os carros".
(VA e LHA)

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