São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Ninguém acreditava na derrota

ANDRÉ FONTENELLE

O jornalista britânico Brian Glanville foi preciso ao notar a ironia: a única Copa que não programou uma final teve a final mais emocionante de todas.
Foi a única vez em que um país chegou à final do Mundial com a vantagem do empate, por força do regulamento. Mas nenhum brasileiro pensava nessa vantagem.
O prefeito do Rio (então Distrito Federal), Mendes de Morais, saudou os "campeões do mundo" antes da partida.
Nem o primeiro tempo, que se revelou difícil e sem gols, esfriou o ânimo da torcida.
O gol de Friaça, aos 2min da segunda etapa, chutando da entrada da área à direita de Máspoli, parecia liquidar os uruguaios.
Estes, porém, se recuperaram do golpe e passaram a mandar no jogo. A jogada mais perigosa era pela esquerda, onde Ghiggia vencia o duelo com Bigode.
Foi assim que surgiu o gol de empate. O ponta uruguaio se livrou de seu marcador, centrou e Schiaffino completou para o gol, fora do alcance de Barbosa. Faltavam 24 minutos para o final.
Uma jogada semelhante decidiu a Copa. Ghiggia venceu Bigode na corrida mais uma vez. Barbosa se adiantou para antecipar um novo cruzamento para Schiaffino. Juvenal veio na corrida para interceptar o tiro. Mas, em vez de cruzar, Ghiggia chutou.
A bola passou entre a trave e o goleiro, silenciando o estádio. Faltam apenas 11 minutos.
Atônito, o time brasileiro não conseguiu mais ameaçar o gol uruguaio. O último lance foi um escanteio. O juiz inglês George Reader encerrou o jogo com a bola ainda no ar.
O público, embora chocado, aplaudiu a vitória uruguaia. No meio do gramado a confusão era total, com brasileiros chorando e uruguaios festejando.
O presidente da Fifa, Jules Rimet, balbuciou algumas palavras e entregou a taça ao capitão uruguaio, Obdulio Varela.
Os jogadores da seleção brasileira, destinados a se tornarem heróis, foram crucificados. O Brasil ainda teria que esperar oito anos para se sagrar, finalmente, campeão mundial.

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