São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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País testa `superanzol ecológico'

VANESSA DE SÁ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O Brasil está juntando esforços com países que querem transformar a pesca industrial em uma atividade menos predatória.
Um barco brasileiro está testando um equipamento, uma espécie de superanzol, que poderá substituir o símbolo da pesca industrial, as redes de arrasto.
Desenvolvido nos Estados Unidos, o superanzol pode contribuir para reverter a tendência de diminuição do estoque de peixes comestíveis nos oceanos.
A redução no estoque de peixes foi revelada no último boletim da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), publicado no final do ano passado.
A superpesca, como tem sido feita, provoca a captura indiscriminada de espécies de peixes e de outros animais marinhos.
Ela utiliza equipamentos de baixa seletividade, como as redes de arrasto, que não permitem a recuperação natural dos estoques de peixes.
Uma das técnicas que podem substituir o arrasto é o superanzol que cientistas do Instituto de Pesca da Secretaria de Abastecimento e Agricultura do Estado de São Paulo começaram a testar no final de abril, em cooperação com uma empresa pesqueira.
A bordo do navio Orion, eles estão numa missão dupla. Além de testar o equipamento –um projeto de quatro anos e orçado em US$ 20 milhões– os pesquisadores vão estar abrindo portas para a exploração econômica das 200 milhas marítimas brasileiras (leia texto ao lado).
"É a primeira vez que o equipamento é usado no país", diz Gláucio Tiago, do Instituto de Pesca.
"Vamos testar sua viabilidade. O espinhel poderá reduzir o impacto causado pelas técnicas tradicionais, já que permite maior seletividade."
O equipamento é simples. Um cabo central com cerca de 1.500 anzóis dispostos em cabos laterais, como as "espinhas" de um peixe, é jogado no fundo do mar.
"Assim podemos atingir um alvo específico, sem corrermos o risco de pescar espécies que não nos interessam."
Segundo o coordenador técnico do projeto, Alberto Ferreira de Amorim, também do Instituto, o espinhel deverá selecionar somente "peixes grandes", que já atingiram a maturidade sexual.
Para Amorim, a modernização é fundamental e um grande passo para a substituição de técnicas predatórias, como as redes de arrasto.
Tiago afirma que boa parte do setor pesqueiro brasileiro ainda trabalha com redes de arrasto.
"Ela arrasta tudo que estiver em seu caminho, e quase 80% do que é pescado é considerado lixo e jogado fora."
Os dois pesquisadores reafirmam a importância do projeto do superanzol como alternativa de pesca dentro das 200 milhas brasileiras.
"A pesca seletiva é o primeiro passo para se pensar em uma produção auto-sustentável", dizem.

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