São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Feminismo ameaça reputação de famosos

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O processo por molestamento sexual contra o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, mostra que o movimento feminista neste país é capaz de ameaçar a segurança de responsáveis por qualquer dos três poderes da república.
Nos últimos três anos, por denúncias parecidas, um juiz, Clarence Thomas, quase teve seu nome recusado para a Suprema Corte americana.
O senador Bob Packwood esteve perto de perder o mandato e ir para a prisão.
E agora o presidente Clinton sofre pelo menos o constrangimento de responder a uma ação civil por conduta desonrosa.
Nesse mesmo período, pelos mesmos motivos, um esportista famoso e rico, Mike Tyson, foi condenado à prisão, e um integrante do poderoso e milionário clã dos Kennedy, William Kennedy Smith, por um triz não teve o mesmo destino.
A evidência desse prestígio não livra o feminismo de graves perigos. O primeiro é que a universalização das denúncias de molestamento sexual está colocando em risco sua estratégica aliança com políticos liberais.
É o caso de Clinton. Ele pode ser um mulherengo incorrigível mas sua atuação pública sempre foi em defesa dos direitos das mulheres em todas as áreas.
O mesmo ocorre com Bob Packwood, um dos líderes a favor de todas as propostas feministas apresentadas ao Congresso nos últimos 30 anos.
Outro perigo para as feministas é que a disseminação das denúncias de sexismo provoca exageros cometidos por pessoas sem critério, que acabam desmoralizando o conceito do sexismo em si próprio.
Por exemplo: na Penn University, uma professora mandou retirar da parede de sua sala de aula uma reprodução da tela "Maja Desnuda", do pintor espanhol Lucientes Goya (1746-1828), e acusou a administração da escola de molestá-la sexualmente por ter pendurado ali o quadro.
O caso dessa professora é emblemático de reivindicação de parte das feministas que tem colocado o movimento em rota de colisão com todo o "establishment" liberal dos Estados Unidos (não apenas os políticos).
É a tentativa de definir pornografia não como discurso mas como discriminação sexual ativa e, com isso, retirar dos "pornógrafos" o direito de liberdade de expressão garantido pela Constituição do país.
Está no Senado dos Estados Unidos, já aprovado pela Comissão de Justiça, projeto de lei que concede a vítimas de crime de natureza sexual o direito de exigir indenizações de produtores, distribuidores e exibidores de "pornografia".
Quer dizer: uma mulher estuprada pode mover ação civil contra qualquer cineasta que tenha filmado cenas de estupro.
O perigo desse tipo de legislação, mesmo que não venha a entrar em vigor, é que ele encoraja disparates de mulheres sem discernimento, como a da professora da Penn University, e dificulta a possibilidade de entendimento entre homens e mulheres na sociedade.

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