São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Primeira-dama se dividia entre filhos e arte

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Jacqueline (que ela pronunciava "jakeliin") Kennedy Onassis foi uma mulher típica da sua geração. O centro da sua vida foram os filhos e o lar. Nada de feminismo nem de posar como símbolo de emancipação feminina.
Mas, a seu modo, ela foi produtiva para a sociedade como poucas no seu tempo. Além do apego e do incentivo às artes em geral, Jackie também foi militante ativa da preservação do patrimônio histórico e hábil editora.
Sua preocupação com o ambiente urbano se manifestou primeiro em Washington, onde liderou a reconstrução da Pennsylvania Avenue.
Dizem que no dia da posse de seu marido na Presidência, quando o carro que os levava à Casa Branca passou em frente ao magnífico edifício "art-nouveau" do Willard Hotel, então abandonado, Jackie chamou a atenção de John para a necessidade de recuperar o prédio do início do século.
Pode não ter sido assim que começou a história, mas no seu governo, a avenida Pennsylvania, principal da cidade, foi totalmente remodelada.
A segunda fase da Jackie preservacionista ocorreu a partir de sua mudança para Nova York em 1975, após a morte de Aristóteles Onassis. Ela se engajou primeiro na campanha para salvar a Grand Central, terminal de trens e complexo de hotéis e escritórios construído em 1903 na Park Avenue.
Depois, como membro da Municipal Art Society, Jackie liderou movimento pela preservação da igreja de São Bartolomeu, notável exemplo de arquitetura bizantina também na Park Avenue, erguida em 1913 e ameaçada pela tentativa de se colocar de um edifício de 47 andares sobre ela.
Ela também lutou com sucesso contra projeto de lei estadual que retiraria os edifícios religiosos da lista de prédios sob a proteção do patrimônio histórico e contra os planos do empresário Mortimer Zuckerman de levantar um edifício em Columbus Circle, que estragaria a visão do Central Park.
Como funcionária da Doubleday, uma das maiores editoras dos Estados Unidos, Jackie demonstrou grande senso de profissionalismo e o proverbial bom gosto.
Graças a seus contatos privilegiados, obteve títulos difíceis para qualquer outra editora. Por exemplo, "Moonwalk", de Michael Jackson.
Foi a responsável pela introdução do prêmio Nobel egípcio Naguib Mahfouz na língua inglesa (ela conhecia seus romances porque os leu em francês). Convenceu a compositora Carly Simon, sua vizinha no retiro de Martha's Vineyard, a escrever bem-sucedidos livros infantis.
Sua grande paixão foram os livros de arte. Por exemplo: "A Second Paradise: (Indian Courtly Life 1590-1947)", de Navaen Patnaik, fartamente ilustrado com fotos e reproduções de arte indiana.
"Eu sou atraída por livros de fora da nossa experiência comum, livros sobre outras culturas, outros tempos. Para mim, um grande livro é o que me transporta para uma viagem a algo que eu não conhecia antes", disse Jackie no ano passado, na sua única entrevista em 25 anos, à revista profissional "Publisher's Weekly".

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