São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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Quércia é um gênio eleitoral?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Indiscutível: Orestes Quércia é um dos maiores fenômenos eleitorais do Brasil. A formalização de sua candidatura está prevista para este final de semana e adianto: caso ele vença a sucessão presidencial, será escrito nesta coluna que o ex-governador não está entre os maiores fenômenos eleitorais. Mas é o maior.
Há um marca característica na trajetória de Quércia: ele começava suas campanhas por baixo e desacreditado. Quando disputou o Senado tinha 5% das intenções de voto e seu oponente, o ex-governador Carvalho Pinto, exibia 70%. Venceu facilmente.
Quase ninguém apostava em sua candidatura quando quis o governo de São Paulo. Ganhou de novo. Talvez o maior feito tenha sido eleger Luiz Antônio Fleury como seu substituto, que saiu literalmente do chão nas pesquisas. Quércia usa essas histórias para impressionar a legião de pessoas de seu partido desconfiadas sobre suas possibilidade.
A esta coluna, ele diz: "Vai mudar. Basta vir o horário eleitoral". Mais uma vez, ele inicia por baixo nas pesquisas e desacredidato, inclusive nas principais lideranças de seu partido, anunciando dissidências.
Mas existem, agora, diferenças. Soma-se à baixa colocação nas pesquisas e à falta de apoio nos grandes nomes do PMDB, um fator: nunca sua imagem esteve tão ruim. É tão ruim que, até pouco tempo, sequer conseguiu se manter na presidência de seu partido.
Para piorar, ele está denunciado pelo Ministério Público por estelionato. Lembre-se que, em todas as pesquisas, a honestidade é apresentada pelos entrevistados como o maior requisito de um futuro presidente. Em tese, um processo de estelionato inviabilizaria que o mais simples cidadão ganhasse o mais simples emprego –imagine-se, então, para quem deseja ocupar a Presidência, o mais complexo dos empregos do país.
Sem, no mínimo, se livrar desse processo sobre importações de Israel, apenas o maior gênio eleitoral da história do Brasil seria capaz de enfrentar tantas dificuldades e vencer a eleição.
PS - Debates no exterior sobre direitos humanos tiram-me desta coluna por duas semanas.

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