São Paulo, domingo, 22 de maio de 1994
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O caos da saúde; Bairrismo; Matemática política; Telefone celular; Contra a revisão exclusiva; Futebol aprisionado; Lição de amor; Homofobia

O caos da saúde
"Interessante (e demagógico) o artigo publicado nesta Folha, na edição de 20/05, de autoria do dr. José A. Pinotti. Ele retrata o caos em que se encontra a situação da saúde atualmente, como se não tivesse tido nenhuma participação. Foi exatamente durante sua gestão como secretário de Saúde do governo Quércia que a saúde no Estado começou a se desmantelar. Ele conseguiu, e fez escola com o atual governador, manter os mais baixos salários para os trabalhadores da Saúde. Manteve o hospital Emílio Ribas, e continuou fazendo escola, nos índices mais precários de sua história, tanto no que se refere à reposição de materiais, à pobreza de medicamentos, à falta de pessoal de enfermagem e, principalmente, aos baixos números de leitos. Em troca, optou apenas pela construção de um faraônico esqueleto, o Instituto da Mulher, fruto de vaidade e ineficiência. Me pergunto: por que sua revolta agora e não quando tinha poder como autoridade máxima de saúde no Estado de São Paulo? Onde estavam sua `vontade política, competência e compromisso com as necessidades da população'?"
Caio Rosenthal, médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (São Paulo, SP)

Bairrismo
"Como leitor assíduo deste jornal, quero saber por que a Folha não divulga o campeonato carioca como ele merece, pois no Rio de Janeiro está o clube de futebol de maior torcida no país e pentacampeão do Brasil. Fiquei chateadíssimo na quinta-feira, na sexta e no sábado passados, sem saber informações sobre o jogo Flamengo e Botafogo, que fazia parte da decisão de 1994. Tive de comprar outro jornal para saber do jogo. Será bairrismo? Prefiro não acreditar!"
José Adilson de Jesus (São Paulo, SP)

Matemática política
"A Folha se escandaliza com 52% de abstenção nas prévias do PMDB e procura desqualificar o resultado obtido por Quércia. Pura desinformação e com cores de campanha, pois o mesmo tratamento não se dispensou aos resultados da convenção do PSDB. Talvez isto seja puro `fernandohenriquismo'. Vamos aos dados: dos 308 convencionais, 119 votos deixaram de ser dados à aliança com o PFL. A favor da aliança só 117 convencionais, sendo 12 contra. O quórum para aprovar a aliança era de 155. Só 22 votos superaram o quórum necessário. Isto num partido que tem as boas graças da imprensa. Se a abstenção do PMDB escandaliza, a abstenção na convenção do PT, para a escolha do candidato a governador, não. E Lula e os cardeais do PT estavam lá. Cito o PT, partido a quem respeito, só para mostrar a diferença de tratamento da Folha e de outros jornais. Votaram pouco mais de 20 mil convencionais de um partido que tem 135 mil filiados no Estado."
Dalmo Pessoa, vereador pelo PMDB (São Paulo, SP)

Telefone celular
"O telefone celular foi inventado para facilitar e não para dificultar a vida do cidadão, particularmente daqueles que, pela profissão, são frequentemente solicitados a atender situações emergenciais. Como, por exemplo, o médico que é chamado, dentro de seu carro, com o trânsito congestionado, a comparecer rapidamente ao hospital onde seu paciente está em choque. Ou o empresário que está sendo convocado a se dirigir a sua empresa que pegou fogo, ou ainda a esposa aflita que quer avisar que o filho foi atropelado, e assim vai. De agora em diante, todavia, quando tocar o celular no carro, antes de atendê-lo devo sair rapida e perigosamente do tráfego, estacioná-lo, se é que isto é possível, e só então atender ao chamado. Isto sim é que se chama manobra perigosa, amigo Scaringella. Tudo isso porque o Código Nacional de Trânsito não permite guiar com uma mão só, a não ser para engatar marchas nos carros de câmbio mecânico. Ora, convenhamos, Scaringella, no Brasil a grande maioria dos carros é de câmbio mecânico e, destarte, os motoristas passam a maior parte do tempo com a mão mudando de marcha, enquanto a esquerda cuida da direção, facilmente. Eu pergunto: em qual outro país vigora semelhante lei? Scaringella, amigo: muito faz quem não atrapalha."
Ricardo Veronesi, professor da Faculdade de Medicina da USP (São Paulo, SP)

Contra a revisão exclusiva
"A proposta da assembléia revisora exclusiva está sendo colocada num momento em que a rara oportunidade de eleições gerais (pós-plebiscitárias, pós-impeachment, pós-CPI) com possibilidade de alternância real de governo deveria merecer a maior atenção dos cidadãos e da mídia democrática. A dinâmica da consolidação e do desenvolvimento da democracia, luta sem fim que não chegará a uma `última batalha da cidadania', não deve ser confundida com elementos de perturbação e de diversionismo desta mesma dinâmica. Ainda que venham num discurso onisciente esbravejando modernidade, e ainda que contenham argumentos procedentes, não contribuem para a influência e formação de uma opinião pública democrática os exercícios de manipulação de nossa incultura política, a chantagem de uma última chance e a pregação religiosa de instrumentos como o voto distrital."
Humberto P. Cavalcanti (Porto Alegre, RS)

Futebol aprisionado
"A foto de Raí tirada por Kiko Coelho e publicada à pág. 4-1 da Folha de 17/05 nos mostra o craque em uma situação parecida com a de um presidiário: olhar abatido, camisa listrada e mãos em posição para serem algemadas. A mesma imagem poderia servir de ilustração para o modelo de futebol que Parreira quer impor à seleção brasileira: um futebol preso aos conceitos defensivistas dele e de Zagalo."
José Elias Aiex Neto (Foz do Iguaçu, PR)

Lição de amor
"Magnífica lição de amor nos propiciou d. Luciano Mendes de Almeida em sua coluna de sábado (14/05). A lógica pura não satisfaz nossas necessidades individuais e coletivas. E o elemento subjetivo que nos completa é o amor: dar e receber amor. Certamente, com a vivência do amor, nossa sociedade compreenderá que, em economia, o conceito de ganância é distinto do conceito de incerteza."
Rosan de Sousa Amaral (Belo Horizonte, MG)

Homofobia
"Pela segunda vez, o governador do Ceará, Ciro Gomes, se refere aos homossexuais de maneira negativa. Na primeira, ao ver um `tape' sobre a atuação de grupos neonazistas, falou que se tratava de `desvio homossexual'. Agora, numa reunião de seu partido, ele pretendeu insultar alguém chamando-o de `baitola' do PT. Não satisfeito, pois viu que a outra pessoa não havia entendido o xingamento, usou um sinônimo (veado), acrescentando a ameaça de agressão física. Errar é humano. Agora, persistir no erro..."
William Aguiar, membro do Grupo de Gays e Lésbicas do PT (São Paulo, SP)

"Fiquei horrorizado ao ver que o sr. Ciro Gomes continua o mesmo, homofóbico até a medula. Por falta de argumentos para justificar a coligação oportunista de seu partido com o PFL, valeu-se de um linguajar vulgar e extremamente pejorativo para xingar seus militantes. É lamentável que um homem público se preste a este tipo de atitude, que só serve para aumentar ainda mais a intolerância da sociedade com os homossexuais."
Josué Delfino de Freitas (São Paulo, SP)

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