São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dívida das privatizadas pode diminuir 25%

EDIANA BALLERONI; GUSTAVO KRIEGER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Erramos: 24/05/94
O IGP-M é apurado entre os dias 21 do mês anterior e o dia 20 do mês em que é divulgada, diferentemente do que afirma esta reportagem. Com a entrada do Real, a inflação será calculada tomando-se como base a comparação entre os preços em Reais e os preços em URV e não entre os preços em cruzeiros reais e URV, como afirma a reportagem.
Dívida das privatizadas pode diminuir 25%
Bancos e empresas privadas que compraram estatais com dinheiro público, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o gestor do programa de privatização), poderão ser beneficiadas por um "desconto" significativo em suas dívidas quando o real for criado –algo em torno de 25%.
No total, essas dívidas com o BNDES somam US$ 1,49 bilhão –quase duas vezes o que a Inglaterra gastou para despoluir o rio Tâmisa e mais do que custou a construção da nave espacial Columbia (US$ 1,1 bilhão).
Várias estatais foram compradas, dentro do programa de privatização, com financiamentos concedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
As mais importantes são empresas do setor siderúrgico e petroquímico. Como a Usiminas, Açominas, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Cosipa, Acesita, Fosfértil, Ultrafértil e Copesul, entre outras.
Entre os maiores tomadores de empréstimos estão os bancos Bamerindus (US$ 104 milhões), Bozano (US$ 247,4 milhões) e Econômico (US$ 65,4 milhões).
Lei
A Lei da URV (Unidade Real de Valor) –aprovada pelo Congresso às 0h40 da última quinta-feira– prevê em seu artigo 38 que os cálculo da inflação no mês do real (julho) e no seguinte (agosto) será feito com base nos preços em real, em URV ou convertidos em URV.
Na prática, o artigo 38 diz que a sistemática de cálculo dos vários índices de inflação será mudada a partir da introdução da nova moeda, o real.
A inflação em cruzeiros reais será comparada a valores medidos em URV para se chegar ao índice de correção.
Como a apuração do diversos índices acontece em variados períodos do mês –e não exatamente entre os dias 1º e 30– alguns dias poderão "sobrar" sem serem calculados.
IGP-M
É o caso, por exemplo, do IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), o indexador que corrige os empréstimos do BNDES. Ele é apurado entre os dias 15 de cada mês. Os resultados das pesquisas de preço são divulgados a cada dez dias.
O último IGP-M a ser apurado antes da criação do real (1º de julho), portanto, será fechado no dia 15 de junho.
"Sobram", portanto, quinze dias. Com uma inflação média de 1,5% ao dia, as dívidas corrigidas pelo IGP-M poderão ter um "desconto" de 25%.
Congresso
No caso do BNDES, isso significa que –além de comprarem estatais com dinheiro público– as empresas e bancos poderão obter um "abatimento" de US$ 375 milhões no total dos seus financiamentos.
A Lei da URV não definiu como será feito o cálculo das "sobras" dos vários índices de inflação. Delegou ao Congresso a tarefa de fazê-lo.
Alguns parlamentares já se articulam para que as "sobras" sejam calculadas pro-rata (cálculo parcial, no caso diário).
O tempo, contudo, é curto (até 1º de julho, quando começa a circular o real).
Prevenindo-se contra um virtual atraso do Congresso, a equipe econômica já começou a discutir uma medida provisória sobre o assunto.
Não está certo que a MP irá incluir o cálculo pro-rata. Alguns membros da equipe defendem que as "sobras" dos índices são meros resíduos estatísticos –e, portanto, devem ser desprezados.

Texto Anterior: Ministro do Trabalho critica `ganho absurdo'
Próximo Texto: Lula 'é lobo em pele de cordeiro', diz FHC
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.