São Paulo, terça-feira, 24 de maio de 1994
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Petista e tucano aumentam as críticas mútuas

DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) aumentaram ontem o tom das críticas mútuas que vêem mantendo nos últimos dias.
Diante dos metalúrgicos do ABC paulista, Lula afirmou que seu adversário "vacilou ao dar uma escorregada pela direita e se aliar com os coronéis da política".
"Eles falam que são modernos. Mas qual modernidade? A de ACM (Antônio Carlos Magalhães)? A do Marco Maciel? A do Bornhausen?", indagou.
Nas entrevistas, o petista foi mais duro com seu adversário tucano. Disse que FHC, como representante da "aristocracia", não se conforma que "um metalúrgico assuma a Presidência".
Instigado por seguidores, Lula afirmou que "o ex-ministro mudou muito, caindo pela direita, até virar porta-voz de ACM".
Nos discursos, o candidato do PT também atacou o Plano Real. "Dá a impressão de ser uma coisa manipulada para ganhar eleição".
Para ele, no entanto, o efeito eleitoral do Plano Real pode ser inferior ao do Plano Cruzado, em 86, porque não há segurança sobre o aumento do consumo.
Apesar das declarações de Lula, há preocupação no PT com a possibilidade de FHC crescer eleitoralmente se houver a queda abrupta da inflação.
A poucos quilômetros de Lula, em São Paulo, durante entrevista à Rádio Bandeirantes, Fernando Henrique Cardoso virava sua metralhadora contra o adversário e seus correligionários petistas.
Sobre o bate-boca eleitoral, FHC disse que não quer "entrar no xingatório. Acho que seria melhor a gente discutir o Brasil."
No entanto, ele conclui que essa conduta "não dá". Segundo o candidato do PSDB, o "Lula não tem programa de governo e fica falando coisas sem base. Eu preferia fazer diferente."
Sobre o o Plano Real, FHC disse que os banqueiros vão ser os maiores prejudicados.
Segundo o ex-ministro da Fazenda, "a inflação vai cair e o capital financeiro vai murchar".
"Dizer que eu defendo o sistema financeiro, como quer o Lula, é coisa de gente que não entende a situação brasileira profundamente. Ele só entende de palavras", disse.
O candidato do PSDB afirmou que, se eleito, vai jogar todo seu "esforço como presidente na reforma do Estado. Isso requer mudança na Constituição."
E aproveitou para voltar a criticar o petista. "É uma pena que Lula não tenha ficado mais tempo no Congresso para aprender essas coisas. Se tivesse prestado, perceberia que é preciso fazer a revisão, não para ser contra o funcionalismo público, mas para atender melhor a população".
FHC atacou também a economista Maria da Conceição Tavares, candidata pelo PT do Rio à Câmara Federal.
Depois de chamá-la de "histérica" e acusá-la de ter "perdido o equilíbrio", disse que ouviu de sua voz "tanta bobagem" que ficou "com pena dela".
Conceição disse em entrevista à Folha que FHC traiu suas idéias e se transformou no candidato das "elites conservadoras". Também chamou a candidatura do tucano de "fraude constrangedora".
O ex-ministro sugeriu ainda que houve corrupção na CMTC durante a gestão de Luiz Erundina na Prefeitura de São Paulo (1989-1993).
Mais tarde à Folha, FHC respondeu aos ataques do petista sobre seus vínculos com o ex-governador da Bahia Antônio Carlos Magalhães.
"Nunca fui ventríloquo nem marionete de ninguém. Eu sei dizer o que eu penso, com a minha própria voz. Não consulto ninguém para falar", concluiu.

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