São Paulo, terça-feira, 24 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ministro quer conter divergências públicas

SÔNIA MOSSRI
e GUSTAVO PATÚ

SÔNIA MOSSRI; GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, deu um recado duro a sua equipe durante reunião no último domingo. As divergências técnicas não devem ser passadas à imprensa até o anúncio oficial das regras do real.
Ricupero não quer declarações contraditórias de membros da Fazenda sobre a correção dos impostos, os limites para emissão do real, relação entre a nova moeda e o dólar e o expurgo de inflação em cruzeiros reais após 1º de julho.
Para eliminar as polêmicas públicas, Ricupero determinou à equipe que formule propostas comuns sobre os temas. Caberá somente ao ministro o anúncio das decisões.
Segundo relato de participantes da reunião, uma das maiores diferenças na equipe é o futuro da Ufir (Unidade Fiscal de Referência), indexador de impostos.
A discussão foi provocada pelo diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Gustavo Franco, que defendeu a proposta de extinção da Ufir.
O argumento de Franco é que o próprio governo deve demonstrar que espera taxas mínimas de inflação após o real e pode abrir mão da atualização dos impostos.
Técnicos da Receita Federal discordam da idéia. Lembram que a Ufir não serve apenas para indexar o recolhimento dos impostos, mas também é o fator de atualização da tabela para cálculo do Imposto de Renda.
A Receita prevê um número significativo de dissídios trabalhistas concentrados no segundo semestre de 94. As categorias que tiverem salários reajustados pagariam mais impostos sem a atualização da tabela do IR.
Além disso, a Receita avalia que o governo correria riscos elevados se não contar com a possibilidade legal de correção dos impostos, mesmo que não a utilize nos primeiros dois ou três messes após o real.
Pelo princípio da anterioridade, o governo não poderia voltar a corrigir os impostos em 94 se a Ufir fosse extinta. Da mesma forma, caso não haja nenhum mecanismo previsto para 95, criado em 94, também não teria meios de indexar os tributos no próximo ano.

Texto Anterior: Ministro não quer concessões
Próximo Texto: Estudo questiona veracidade dos documentos de Castor
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.